O sol começa a desaparecer, encoberto pela cordilheira das
Montanhas do Trovão. Era um final de tarde espetacular que somente o Outono
poderia trazer. Aquele misto de luz laranjada com tons rosas era ainda mais
acentuado nas águas cristalinas do Rio do Arco. Isso já causava saudade em
Rundolph Avalon, pois sabia que iria deixa-lo amanhã.
O senhor de seus 40 e poucos anos estava sentando na varanda
de casa, uma fazenda próxima do rio, aproveitando aquela visão. Um cheiro
agradável lhe chegou as narinas, o que o fez se virar para trás, olhando além
de sua cadeira de balanço, para ver a aproximação de sua sempre silenciosa
esposa Lilhiel. Nas mãos da elfa da lua estava o seu chá favorito.
“Está aqui seu chá de amoras silvestres, meu E’sum Ath
Crith”
“Obrigado, Thiramen!”
Ele se deliciava do seu chá, enquanto Lilhiel apoiava suas
mãos em seus ombros. Ela sempre foi a paixão da sua vida e eles nunca teve
dúvidas que era correspondido no amor, mas sabia que sua frágil vida humana,
comparada a de uma elfa, em poucos anos, os separaria. Rundolph tinha essa
impressão a cada dia, cada vez maior. Tinha que tirar essa preocupação da cabeça
e lembrar que o amor que viveram e vivem era o que importava. O outro motivo
era que os novos aventureiros da companhia caravaneira que ele comandava, que
treinavam na beira do rio, já estavam vindo conversar com ele.
A companhia Flechas Prateadas se orgulhava de
empregar os melhores aventureiros da região dos Vales para transportes dos
melhores produtos élficos da região. Rundolph usava as viagens que a caravana
fazia para enfrentar ameaças malignas, pois sempre escolhia nobres aventureiros
em suas fileiras. A nova safra deles se dirigia a sua varanda, acompanhando a
líder deles no Vale do Arco, a meia-elfa drow Aeres, nascida na distante terra
de Maztica, com seus estranhos, mas benéficos poderes de sacerdotisa do arco íris.
"Mestre Rundolph, trouxe comigo os 5 novos aventureiros que acompanharam a Caravana Flechas Prateadas até a cidade de Voonlar. Prometi a eles que o senhor responderia a uma pergunta de cada um deles se realizassem o treino de hoje sem reclamar. Todos cumpriram."
O mestre caravaneiro deu uma nova golada em sua caneca de chá e comentou: "quem é o primeiro?"
Um jovem lutador humano, um dos primeiros a sentar na grama em frente da varanda, no meio do semicírculo formado por seus companheiros, levantou a mão. "Por que o nome de nosso grupo e da caravana se chama Flechas Prateadas?"
Um sorriso de nostalgia apareceu no semblante de Rundolph.
"Somos Flechas Prateadas por causa da escola de mercenários e aventureiros criada pelo meu irmão mais velho, Aaron. Antes até de meu pai, um grande treinador, ele percebeu que eu era um fracasso com armas de combate corpo-a-corpo. Mas mesmo assim, ele não desistiu de mim. Antes que meu pai me largasse, ele me trouxe um arco curto elfico, uma beleza de arma. Desde então, me parecia natural atirar de arco, natural como respirar. Quando me casei com Lilhiel e decidi me juntar uma caravana, Aaron disse que eu precisaria de várias flechas prateadas ao meu lado, como aquelas que ele tinha me dado junto com o arco, para sobreviver nesse mundo."
"Lorde Rundolph, por que o apelido Meias Longas? Fora as meias longas, claro. Quem deu esse apelido?"
Rundolph esperou as pequenas risadas cessarem, depois da cara de repressão de Aeres, para responder: "Estamos no meio da Floresta do Arco, prestes a tentar impedir uma guerra entre os elfos selvagens da floresta e as forças do Vale do Arco. Imaginem, acampados numa floresta fechada, cuja névoa noturna congelava até os ossos, esperando não ser atacados, mesmo sendo um grupo de paz. O druida do nosso grupo, Nathuran, que estava no turno aquela noite, viu algo se mexendo num arbusto e imprudentemente lançou um enxame de insetos. Naquela noite, aprendi que devo avisar quando vou 'obedecer aos instintos naturais' aos meus companheiros. Eu que estava naqueles arbustos. Minha calça foi quase que praticamente devorada e eu não tinha calça substituta. Fiz toda a missão de paz com uma camisa suja, uma bermuda rasgada e minhas intactas meias longas verde musgo."
"Onde você conheceu a senhora Lilhiel?" Rundolph não vi o rosto da elfa ruborecer e os olhos dela brilharem, mas sentiu suas suaves mãos esquentarem em seus ombros. Ele sabia que ela adorava quando seu consorte humano contava a história.
Rundolph esperou as pequenas risadas cessarem, depois da cara de repressão de Aeres, para responder: "Estamos no meio da Floresta do Arco, prestes a tentar impedir uma guerra entre os elfos selvagens da floresta e as forças do Vale do Arco. Imaginem, acampados numa floresta fechada, cuja névoa noturna congelava até os ossos, esperando não ser atacados, mesmo sendo um grupo de paz. O druida do nosso grupo, Nathuran, que estava no turno aquela noite, viu algo se mexendo num arbusto e imprudentemente lançou um enxame de insetos. Naquela noite, aprendi que devo avisar quando vou 'obedecer aos instintos naturais' aos meus companheiros. Eu que estava naqueles arbustos. Minha calça foi quase que praticamente devorada e eu não tinha calça substituta. Fiz toda a missão de paz com uma camisa suja, uma bermuda rasgada e minhas intactas meias longas verde musgo."
"Onde você conheceu a senhora Lilhiel?" Rundolph não vi o rosto da elfa ruborecer e os olhos dela brilharem, mas sentiu suas suaves mãos esquentarem em seus ombros. Ele sabia que ela adorava quando seu consorte humano contava a história.
"Foi em umas das minhas primeiras missões. Tinha uns 12 anos. Papai nos trouxe para combater um grupo de bandidos assolando pequenas vilas no leste do Vale Profundo. Quando descobrimos nosso inimigo, descobrimos também que eles tinham um mago. Lembrem-se de se espalhar quando ouvirem uma evocação de uma bola de fogo, jovem. O nosso grupo familiar se separou, mas eu fui jogado dentro de uma barraca pela força da explosão. Lá dentro, vi um ser que deveria ser celestial, presa. Libertei-a e pegando emprestado o meu arco, essa elfa da lua acabou me salvando. Nunca me esqueci da paixão que ela me despertou. 10 anos depois, a encontrei, e algumas aventuras depois, nos casamos e continuamos juntos até hoje."
"Qual a sua maior aventura?"
"Qual a sua maior aventura?"
O arqueiro caravaneiro tomou o último gole de seu chá e entregou a xícara a sua esposa. "Não tenho nenhuma aventura que tenha sido a maior ou melhor. O que vocês precisam ter a consciência como aventureiros, é que haverão dias muitos bons e haverão dias péssimos. São esses dias que vocês lembrarão. Lembro de quando derrotarmos o Rei Bugbear que ameaçava os Vales; lembro de termos evitado a Guerra do Arco; criamos filiais e salvamos cidades; mas lembro dos momentos ruins também, como perder grande parte dos aventureiros numa masmorra drow; lembro da queda da escola de aventureiros do meu irmão, assim como lembro do sacrifício de minha filha para derrotar um dragão vermelho."
Rundolph segurou as lágrimas. Ainda havia uma pergunta antes de se recolher.
"Mesmo com alguns fatos tristes, o que você acha dos Flechas Prateadas?"
"Eles são meu orgulho. Mesmo enfrentando dificuldades, eles vencem. Mesmo participando só um tempo ou ficando muito tempo conosco, ser um flecha prateada marca uma pessoa, positivamente. São esses momentos juntos que serão lembrados sempre. Bem, jovens, vamos nos recolher agora. Amanhã, a caravana parte. Temos um casamento de dois aventureiros dos Flechas Prateadas de Ametista para ir".
***
Rundolph esperou seus pupilos se recolherem, apreciando a noite que viria, pois tinha a sensação ruim de que talvez demorasse muito tempo para ver o luar refletido no Rio do Arco...
"Mesmo com alguns fatos tristes, o que você acha dos Flechas Prateadas?"
"Eles são meu orgulho. Mesmo enfrentando dificuldades, eles vencem. Mesmo participando só um tempo ou ficando muito tempo conosco, ser um flecha prateada marca uma pessoa, positivamente. São esses momentos juntos que serão lembrados sempre. Bem, jovens, vamos nos recolher agora. Amanhã, a caravana parte. Temos um casamento de dois aventureiros dos Flechas Prateadas de Ametista para ir".
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Rundolph esperou seus pupilos se recolherem, apreciando a noite que viria, pois tinha a sensação ruim de que talvez demorasse muito tempo para ver o luar refletido no Rio do Arco...