quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Diário de Campanha - Mercenários - Capítulo 1: "Nashkel" (Parte I)

Capa da 1º Aventura!
Boa noite, senhores!

Trazemos um novo diário de campanha, de uma nova sessão de aventuras que estou mestrando, no sistema D&D 3.5, no cenário Forgotten Realms. Nessa primeira parte, trazemos a primeira aventura, pela visão de um dos NPCs do grupo, Justin, um guerreiro amaldiçoado de Thetyr. O começo da aventura e uma parte da história desse personagem e seu companheiro de viagens Androvani, você acompanha logo abaixo:

Maldita ressaca. Acordo e minha cabeça gira. Visão embaçada e os ouvidos doendo. Doendo ainda mais por causa de uma discussão. Não entendo o teor, mas entendo o tom de voz.
Apoio meus tornozelos num tapete calimshaniano para tentar me levantar. Isso não parece ressaca, sinto-me entorpecido, como se tivesse sido drogado. Lótus Negra... Esse era o nome da bebida? Olho ao redor em busca de rostos familiares. Reconheço de cara apenas Androvani, o bardo que me acompanha. Ele está envolvido numa discussão com um anão, da sub-raça dos escudos, me parece... Um Cormyriano e uma jovem sulista de cabelos escuros. Continuo não entendendo os que as vozes dizem, mas noto a bagunça no chão.
Uma mesa de madeira destruída, restos de um banquete, pratos sujos, copos de barro semi destruídos e um homem deitado, junto isso tudo. Pelo cheiro ferroso que consigo sentir, entre todo aroma adocicado de lótus negra, espalhado pelo chão, não, espalhado por tudo, o homem está morto. Viro-me para saída desse lugar. Esse lugar é uma tenda? Sim, é. E no caminho para saída, sai de minha boca, uma voz que não parece minha, dizendo ‘isso está acontecendo de novo’.

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 - Hora de festejar, jovem Justin. A família Valorius em breve terá sangue real correndo em suas veias. A nossa família escolheu o lado certo na guerra das casas nobres. Sinta-se um thetyriano orgulhoso!
O tio de Justin, Mark, proferiu essas palavras, orgulhoso, para o jovem soldado. Justin, como seu auxiliar, terminava de lavar a armadura dele, enquanto Mark enrolava uma gaze, no seu próprio braço direito ferido. Poucas horas atrás, eles tinham invadido a casa de uma família nobre contrária ao candidato à rei que a família Valorius apoiava e Justin tinha presenciado seu primeiro massacre. Quando abandonavam a casa que a tropa dos Valorius tinham posto em chamas, o último sobrevivente, um menino da mesma idade que Justin, tentou perfurar as costas de Mark com uma adaga. Seu tio, um veterano de guerra, pressentiu a aproximação, mas mesmo assim, não evitou o ataque completamente e a adaga perfurou seu braço direito superficialmente – num buraco dos elos de sua armadura. Seu atacante não teve tempo de fazer maiores estragos. No mesmo momento, o menino encontrou a morte, sendo atravessado por três lâminas.
O jovem tentava não relembrar tudo o que tinha acontecido no começo daquela noite, mas as recordações estavam vivas. O Tethyriano afastou a mente daquela cena quando uma serviçal lhe trouxe um cálice de vinho de fogo.
- Beba, moleque! – Mark dizia com a voz já embargada pelo álcool – nosso destino é glorioso!
O vinho descia queimando sua garganta. Era sua primeira vez que bebia. Logo, uma leve tontura surgiu, por ter bebido tudo que havia em seu cálice de vez e ele se jogou numa cama limpa. As serviçais riam de sua caminhada cambaleante até a cama e a mais velha delas se dirigiu até ele. “Jovem mestre, você é um soldado, falta ter uma mulher sua para ser um homem de verdade”. As risadas aumentaram, fazendo um eco na sua cabeça, mas ele não conseguia enxergar mais nada direto, apenas sentia a serviçal desamarrando a corda que segurava suas calças, até o mundo apagar...
...e o mundo voltou se acender com uma dor extrema. Justin estava no chão, cuspindo sangue, sem roupa, sendo arrastado por dois homens armadurados. O jovem foi jogado aos pés de por uma jovem de trajes verdes elegantes.
- Senhora Irina, aqui está o herdeiro dos Valorius, o único que ainda está vivo, como vossa senhoria pediu.
Todos mortos, dava para ver pelas expressões horríveis de dor em seus rostos, principalmente na do seu tio Mark. Justin sentia a morte te observando de cima. A morte representada pela mulher de manto verde.
Os dois soldados que o tinham arrastado, agora o erguiam com um leve acenar da mulher. Uma dúvida superava a dor do soco que tinha levado no rosto: será que a morte tem esse bafo doce que vem dela, da senhora Irina.
Irina o encarou, o rosto do único representante vivo da família que tinha massacrado seus parentes no início daquela noite. “Você tem a idade do meu filho, que foi morto na porta da minha casa!”, ela gritou. “Qual o seu nome?”.
Uma resposta tímida e sussurrada: “Justin Valorius”. Ela topou com a palma de sua mão, em sua testa, como resposta.
- Justin Valorius, eu o condeno a andar com um ser amaldiçoado pelo restante de sua vida – um brilho púrpura preencheu a mão de Irina e queimava a testa, trazendo uma dor nunca antes sentida pelo tethyriano – porque a morte não é suficiente para toda a dor que você me causou!

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Lá fora, as últimas horas noturnas partiam, como mostrava aquele horizonte cinza. Ele estava fora da tenda. Em sua frente, o que parecia ter sido cozido naquela noite. Num espeto enorme, do tamanho de uma árvore nova, acima de uma fogueira, estava um cavalo morto, sem sua parte traseira, mas ainda com seus adornos. Um manto semi queimado que trazia um brasão azul que trazia três javalis amarelos.
- Que loucura é essa? A gente comeu esse cavalo ontem à noite? Eu não me lembro de nada. Você lembra-se de alguma coisa? – perguntava o bárbaro nortista que apareceu ao seu lado.
Realmente Justin não se lembrava de nada. Não sabia porque estava ali, dentro daquela tenda. Não sabia porque estava sem sua armadura e sem sua espada longa. Começava a formular em sua mente que o azar, a maldição que tinha recebido quando jovem, na noite do massacre, influía novamente em sua vida, de forma marcante. Se afastou do nortista e tentou reconhecer onde estava. Fora a fogueira onde o cavalo estava, via a tenda e uma pequena trilha marcada de pedras e madeiras que levava morro abaixo, a uma tenda ainda maior. Dirigiu-se a esse caminho, enquanto sua visão se recuperava. À frente, na trilha, viu uma mulher ruiva, escorada num toco de madeira ao final da trilha, poucos metros a frente da tenda maior. Também viu algo interessante, próximo a mulher, que dormia embalando um pedaço longo de madeira nos braços. Cinco homens, aparentemente aldeões, apagados no chão. Enquanto se aproximava desse local, uma barreira de pinheiros, que impedia a visão da planície abaixo, diminuiu de tamanho e Justin pode ver abaixo, depois de um bosque fechado, uma arena vazia para justa de cavalos. No topo de um palco onde os nobres deveriam ficar, balançava ao vento uma bandeira retangular azul, de bordas amarelas e três caras de javalis amarelos. Ele reconhecia o padrão, era o manto do cavalo. O qual ele relembrava agora, o símbolo do lorde governante da casa nobre e do vilarejo de Nashkel.

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- Festival do Plantio, minha comemoração preferida, Justin! Juntando a isso, apresentações, torneios e festejos num vilarejo pacato no sul da Costa da Espada? Melhor coisa não há.
-Androvani, seu palhaço, já te disse que estou aqui a trabalho – o tethyriano respirou fundo e retirou seu elmo. Nashkel era um vilarejo praticamente vazio, com exceção dos poucos viajantes e peregrinos de Helm, em todas as vezes que tinha passado lá antes. Mas agora era um mar de pessoas, carroças, cavalos e rebanhos. O inverno tinha acabado e praticamente quase todos os habitantes do extremo sul da Costa da Espada e do norte de Amn estavam ali para montar barracas, comprar e vender sementes, rebanhos, equipamentos, entre outras atividades. A feira de Nashkel estava para começar. E que melhor lugar para se buscar trabalho como mercenário em uma liga mercante? Era o que Justin se perguntava.
-Estamos! Auu! Esse golpe de cabo de espada quase perfurou minha armadura de couro vagabunda. Ainda bem que me lembrei de não me defender com meu alaúde.
- Cale-se, Androvani! Vamos andando. Você só está aqui pela farra. O que já fiz por você, você já pagou em ouro.
- Nada melhor do que uma feira para eu apresentar meus talentos artísticos e realmente terminar de pagar o que devo. Olha aquela placa de madeira apontando para leste. Está escrito ‘Feira a 15 km’, se não me engano. Fazer a feira longe do vilarejo deve ser um alívio para os servos do Lorde, menos coisas a limpar e menos bandoleiros nas ruas.
- Como se eles deixassem de trabalhar aqui para não trabalhar na feira. Deixe de ser tolo, Androvani – a conversa começava a incomodar Justin e ele sabia que os 15 quilômetros até a feira seriam repletos de mais comentários tolos, ensaios de canções recém-aprendidas e paradas para conversas, pelo seu companheiro de viagens Androvani. Pelo menos, ele abordava os transeuntes e o tethyriano ficava ouvindo atentamente suas conversas, para conseguir as informações que desejava. Uma delas o interessou pessoalmente.
Meia hora de caminhada depois, a Feira se apresentava num grande descampado. Pequenas barracas de vendas e jogos – inclusive um adivinho – para um lado; no outro lado, estábulos, tendas de acampamento, carroças, locais para dormir; e seguindo mais a leste, as principais atrações: o pavilhão dos nobres amnianos e convidados; assim como três arenas, uma para combate, outra para exibições com armas e desafios arcanos, e a última arena, o orgulho do lorde da região, a arena de justas para cavalos.
Somente um local te interessava, onde estaria a maior companhia mercante do evento. Pelo nome dado pela moça loura que Androvani parou alguns momentos para flertar no caminho, a companhia se chamava Lótus Negra. Precisava localizá-la na parte de alojamentos, ou seja, descobrir as duas grandes carroças com o símbolo de uma flor desabrochada negra pintada em madeira. A busca não foi difícil, mas a conversa com um de seus soldados deixou Justin um pouco decepcionado. O soldado lhe disse, um pouco grosseiramente, que quanto ao trabalho, devia falar com seu líder, Callium, que não se encontrava ali. Afirmou que voltaria à noite.
 Androvani faria ele conhecer cada recanto daquela feira pelo restante do dia, enquanto Justin esperava e não prestava atenção. Sua reserva de moedas de ouro estava se esgotando e era hora de partir para um lugar mais longe de sua terra natal. Ali ainda era próximo o bastante. Logo ao anoitecer, na hora do morcego, Justin se dirigiu para onde tinha encontrado previamente o soldado. No lugar dele, encontrou uma pequena multidão reunida em frente de uma das carroças da companhia. Em cima dela, um elfo dourado careca, vestido de roupas finas e escuras, falava com a multidão.
- Senhores, eu sou Callium e falo em nome da Companhia Lótus Negra. Viemos aqui apresentar uma nova bebida, uma cerveja apelidada do nome de nossa companhia, para todos vocês, participantes da Feira Anual de Nashkel. Infelizmente, somos um grupo de pessoas que há pouco tempo iniciamos esse negócio e os nobres daqui queriam nos impor taxas de impostos altas para vendermos nossa cerveja.
Os ouvidos de Justin e Androvani ficaram levemente ensurdecidos depois do uivo de desaprovação da multidão. Decidiram se aproximam mais para ouvir melhor.
-...cerveja e comida gratuita para todos que nos acompanharem. Temos tendas prontas para receber vocês no monte Nashkel, acompanhem nossos membros. Não vão se perder no bosque e perder a festa. Ela será inesquecível.

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