terça-feira, 11 de agosto de 2015

Crônicas #05 - Lordes de Scornubel - Prólogo

Reiniciando a história da minha principal campanha atual de RPG, temos que começar com o tema da campanha. Com vocês, o prólogo de Lordes de Scornubel!

Lordes de Scornubel é uma crônica baseada na aventura que eu narro, conjuntamente com as ideias do jogadores, no Cenário de Campanha Forgotten Realms. Esse cenário e alguns dos personagens citados têm seus direitos pertencentes a empresa Wizards of The Coast. Isso é um material feito por um fã para outros fãs, sem propósitos comerciais.

Casa das Maravilhas, no plano de existência "Casa do Conhecimento"

Lentas gotas de sangue. Sangue vermelho escuro, quase negro. Sangue divino, fervilhando de poder, quase uma chama primordial. Em intervalos de segundos, gotas de sangue manchavam e dissolviam com seu calor o chão de mármore branco da Casa das Maravilhas. Sangue de uma criatura gigantesca, que teria uma forma humanóide para quem o olhasse, mas agora parecia ser um golem colossal de metal. Uma armadura completa e perfeita para qualquer guerreiro, a qual seu dono estava vestido para uma guerra. Guerra que ele venceu, mas que trazia um gosto amargo na boca.
"Mestre, o senhor está sangrando. Trarei as aranhas tecelãs para recompor sua armadura". Hisha, o principal guerreiro do deus ferido, levemente ergueu sua cabeça para fazer essa observação. Seu elmo dourado em forma de martelo, assim como uma armadura dourada cobrindo as partes vulneráveis do corpo gigante, facilmente identificavam Hisha como um dos mais imponentes seres da raça dos Inevitáveis, os Maruts. Eram construídos assim, representando os agentes supremos do Deus de Todos os Ferreiros, Gond. 
Gond estava a alguns metros à frente do Marut, sentando, sangrando em seu trono no palácio de metal, fogo e engrenagens chamado de Casa das Maravilhas. Essa construção dourada, erguida num plano de existência divino intitulado de Casa do Conhecimento, foi construída com os maiores inventos, engenhos, tecnologias criadas e descobertas pelos seres humanos e gnomos que habitavam o plano material de Faerûn. O Maior de Todos os Ferreiros afastou os pensamentos que o distraiam e observou que o sangue escorria de sua manopla direita para o chão e uma dor pulsante paralisava seu ombro direito. Sua melhor armadura, aquela que ele levou milhares de anos mortais para criar na melhor forja dos deuses, não foi proteção suficiente para impedir que uma lança cristalina a atravessasse, um pouco acima do seu coração. Um ataque feito pelo seu próprio filho.
O Ferreiro dos Deuses tirou seu elmo, levantou-se e foi em direção de uma janela do palácio. Seus cabelos e barba ruivos flamejantes se agitavam com o leve vento, que trazia um cheiro de fumaça e destruição. Seu reino apresentava uma visão deplorável para seus olhos de chamas vivas. Três seres invadiram o plano, ludibriaram parte do seu leal exército constructo e marcharam destruindo qualquer outro adversário no caminho, com o objetivo de exterminar o Deus Ferreiro e tomar o seu poder divino. Seus inimigos chegaram a travar combate na própria sala do trono da Casa das Maravilhas, profanando a santidade do local e o ferindo, mas ele e sua guarda pessoal de inevitáveis os prenderam e lhe trouxeram a vitória. O comandante do exército inimigo lhe causava desgosto ao mesmo tempo em que lhe trazia uma leve satisfação, seu próprio filho semideus. Lantis.
O combate final tinha acontecido há poucas horas, mas sua cidade ainda trazia as marcas da destruição. Mas como característica do seu criador, os seres que a habitavam, reconstruíam prédios e edificavam novos monumentos numa velocidade absurda para mortais. Enquanto isso, o deus sangrava. Seu poder divino facilmente fecharia seus ferimentos e deixaria que constructos cristalinos e pequenos, parecidos com um enxame de aranhas, rapidamente reconstruíssem sua armadura, mas Gond queria lembrar-se da dor, quando chegasse o momento que seus prisioneiros encarariam o seu julgamento. Talvez a dor o ajudasse a puni-los adequadamente ao crime de tentativa de deicídio. Uma vontade interna queria, ao invés disso, parabenizá-los pelo desafio. Ele caminhou de volta para o seu trono que adotava inúmeras formas, conforme engrenagens se moviam, e ao sentar, tamborilou os dedos, dando permissão que Hisha falasse o motivo de estar ante a sua presença.
“Lorde da Criatividade, antes de trazer os prisioneiros, o seu mestre, o Deus Senhor do Conhecimento Oghma, deseja lhe falar.” Depois de um aceno de cabeça do deus ruivo, o Marut abriu sua mão esquerda, onde um minúsculo cristal – comparado ao tamanho de seu punho – emitiu uma forte luz branca, que trazia a imagem de um jovem senhor com um alaúde na mão. “Jovem Gond, que história temos aqui!”, comentava Oghma, com um discreto sorriso no rosto. “E é uma história clássica: o filho que busca superar o pai. Ele junta alguns amigos, faz alguns acordos e bate na sua porta, para tomar seu lugar. Mas ele foi ansioso, deveria ter se preparado mais. E aí, você sabe como a história termina. Sendo mais óbvio, termina numa superação. Preciso conhecer os personagens.”
Uma voz estrondosa vinda do trono de engrenagens convocou os guardas e os prisioneiros. Antes de uma legião de marut adentrarem no salão, Hisha se postou ao lado direito de seu mestre e notou claramente nos olhos vermelhos de Gond, um misto de raiva e admiração quando os três invasores, Lantis – seu filho – o arquimago elfo Dariel e a necromante Amaryllis entraram numa carroça-prisão repletas de correntes e proteções mágicas.
Um centauro com um corpo de metal prateado e asas metálicas douradas proferia as acusações, mas o Lorde dos Ferreiros não prestava atenção. Novamente, perdido em pensamentos, ele imaginava como Lantis, resultado de um relacionamento com uma gnoma linda e inteligente, tornou-se sumo sacerdote de seu culto em Faerûn, na ilha gnômica de Lantan e passou a planejar sua derrocada. A ambição mortal humana corria nas veias de seu filho – o que o orgulhava - mas ele ainda não estava preparado para assumir seus poderes divinos. Ainda.
Hisha assistia o silêncio perturbador – os prisioneiros não tinham direitos a se manifestarem, nem fisicamente, nem falando – depois que o inevitável Zelekhut tinha terminado sua fala. Por bom senso, o Marut não pretendia novamente chamar a atenção de seu senhor e receber a fúria igual ao que o deus ruivo aplicava na moldagem dos metais de suas criações. O Deus Bardo Oghma pretendia tocar uma balada que cantava a história de um herói aprisionado alguns longos minutos depois, mas se deteve quando uma energia primordial atravessou o palácio e os seres que lá estavam. Em breves instantes, uma forma humanoide surgiu. Sua pele parecia um tecido representando o céu noturno, cujas estrelas agiam como estrelas cadentes enquanto ela se movimentava em direção dos prisioneiros.
“Lorde Gond, você possui em seus domínios, três seres que desprezam a vida. Os objetivos deles parecem espelhar sua vontade e poderes divinos. Lantis busca substituir a vida orgânica por um mundo feito por constructos. Dariel deseja ser o rei desse mundo, enquanto Amaryllis almeja a sua divindade. Objetivos distintos, que levariam ao conflito entre eles após a sua queda. Mas não preciso te dizer isso, pois já sabes. E mesmo em fúria por te afrontarem, sei que se orgulhas disso”. A fúria de Mystra, a deusa da Magia e a Senhora Trama do Universo, ficava cada vez mais patente a cada frase afirmada. Gond esmagava com as mãos seu elmo. A força e o calor que ele tinha nas mãos praticamente derretiam o adamantium. Sua fúria interna estava direcionada para Senhora da Magia. Seu deus-senhor, Oghma, podia sentir essa fúria aquecer o ambiente e se postou entre os dois companheiros do panteão.
Depois de destruir seu trono em um único golpe, o deus ruivo gritou. “Eles são meus prisioneiros, Mystra. Você não os tocará. A senhora pode ser orgulhar de saber do que aconteceu aqui, mas está é a mais clara demonstração do que eu desejo para os mortais. Ambição e Progresso! Por isso, eles não devem ser punidos, devem ser incentivados!” A saliva expelida pelos gritos de Gond queimava as vestes finas e a pele de Oghma, mas ele não demonstrava dor. Antes de acender o ex-mortal Gond a divindade, num passado longínquo, ele conhecia sua fúria e impulsividade. O convívio dos dois e o conhecimento acalmaram o temperamento do Ferreiro, mas a extrema reserva de Mystra à tecnologia e consequentemente às invenções que o deus ruivo tanto adorava, levava ambos a discussões calorosas. O Deus Bardo sabia que um conflito aqui não levaria a nada. “Senhores, acredito que podemos chegar a resultado... Desculpe, Senhora da Arte... A uma punição que agrade a todos nós. Escolhida por vossa senhoria, é claro”.
Mystra voltou a sua costumeira serenidade depois da afirmação de que seria mantida a hierarquia divina, onde ela era superior ao seu adversário Gond. Após uma breve olhada nos prisioneiros, ela se tornou um redemoinho de energia e partiu, deixando uma ordem ouvida em todo plano. “Gond deverá construir uma construção inescapável em Faerûn, pois se fosse feita aqui, seus prisioneiros-servos facilmente fugiriam. Essa prisão será lacrada com o meu poder inesgotável e você, Oghma, apagará a existência deles da história”.
Uma ideia fixa apaziguou imediatamente a mente do Senhor de Todos os Ferreiros. O desafio de construir a prisão perfeita feito pela Dama do Universo realmente era uma punição agradável. Imediatamente ordenou a Hisha, que trouxesse sua mesa de projetos. O cristal do conhecimento na mão do marut se apagou, mas o inevitável conseguiu ouvir o Bardo Divino se despedir dizendo: “...farei o que mandas, senhora, mas as histórias nunca podem ser verdadeiramente apagadas...”.
Lantis, em sua prisão, somente ouviu a voz imperiosa de Mystra. E riu...


Confira em seguida o Capítulo 1 - Areias do Passado: Parte 1 / Parte 2 / Parte 3
Em breve, a Parte 4!

Nenhum comentário:

Postar um comentário