quinta-feira, 11 de junho de 2020

25 NPCs - Personagem 11 - Rana Full Jonah



Preciso deixar Scornubel. Vou aceitar fazer a nova missão e quem sabe depois, aceitar o convite de Milo e ir para sua vila de halflings perdidas em Cormanthor. Mas preciso me juntar ao um grupo de aventureiros para fazer essa imagem. Scornubel me cansou.

Acho que meus principais momentos felizes aconteceram fora da cidade. Não que eu me lembre de tudo. Longe disso. Mas sei de onde veio meu apelido. Veio de criança, da favela halfling, um punhado de barracos localizados ao norte da Cidade das Caravanas. Minha família foi para lá porque viram uma oportunidade de trabalho. Acabaram sendo esplorados. E não adiantou tentar voltar para sua terra ancestral, Luiren. Perderam suas riquezas, enganados por outros halflings. Restou viver na favela halfling.

O desgosto por ter levado esse golpe com certeza ajudaram meus pais irem para o além. Mas nessa época, eu, Rana Jonah, já tinha aceito meu apelido - vergonha não é fugir, vergonha é morrer - e já vivia de furtar e aplicar pequenos golpes nos "inteligentes humanos" da cidade. A tiracolo, tinha meu irmão menor, o invejoso Antony.

Ele mais me atrapalhava do que me ajudava. Sempre disse a ele que o moleque era incapaz de viver na vida de crimes. Tony era teimoso. Tão teimoso que, para provar que era melhor ladino do que eu, se associou a gangue do líder bandido Ralf Tigermilk. Começou a fazer uns assaltos para ele e pior, Tony começou a pegar dinheiro emprestado.

Você acredita que o idiota de meu irmão perdeu 2000 peças de ouro do cara mais maligno do seu bairro? Foi exatamente esse o vacilo que ele cometeu. Sobrou para quem? Para mim, claro. Ralf se viu com o direito de cobrar a dívida, querendo me obrigar a ser sua escrava.

Passei por mal bocados e fugi dos seus homens enquanto dava. Estava prestes a ser capturada, quando Constantino, um clérigo de Oghma, e seu bando de metidos a aventureiros entraram na confusão e salvaram minha pele.

Lógico que depois topei fazer parte dos Guardiões do Conhecimento. Constantino, o líder dele, era o dono do ouro. Ele queria construir um templo. Isso custa muito dinheiro. Logo, ia receber minha parte também. Ele estava atrás também de livros raros e artefatos. Fazendo as contas, isso seria mais ouro no meu bolso e me deixava bem longe dos Tigermilks.

Foram meses divertidos numa caravana, mesmo com todos os inimigos e confusões. Lá aprendi o que era ter companheiros. Pena que depois da nossa primeira missão bem sucedida - levar um livro sagrado do culto do deus da Natureza ao Forte da Vela - logo após voltarmos a Scornubel, o bardo do grupo se provou um maldito traidor. Nessa intriga perdemos o elfo bárbaro - concordo com isso, elfo bárbaro é bem estranho - a meio elfa feiticeira, ex-namorada do nobre clérigo - coitado, morreu algumas semanas antes da traição, morto por um carniçal, acho que ele não fez as preces para Tymora - e o cachorrinho lindo, a montaria da paladina halfing do grupo.

Mas superei toda essa confusão. Pode notar que nem lembro os nomes deles. Não sou boa de lembrar nomes mesmo. De sobreviventes dos primeiro grupo de Guardiões, sobrou apenas eu e Guldar, meu companheiro meio orc que cortou o bardo traidor ao meio, assim como aquela Paladina chata.

Ganhei tanto ouro. E gastei ele todo. Então cobrei de Constantino, "chefe, quero outra viagem". Ele não me decepcionou. Mandou a gente ir atrás de outro livro sagrado. Mais promessa de ouro no meus bolsos. Lá vou com um grupo quase novo. Tinha até um druida gatinho, um halfling chamado Milo, mas ele era muito grudento, eu não iria ceder aos charmes dele. Infelizmente, no meio do caminho, houve um racha.

Metade do grupo se separou. Nessa metade, cada um deles tinha questões pessoais a resolver. Eu estava nesse grupo. Meu irmãozinho tinha assumido a liderança dos Tigermilks e pretendia alia-los aos Zhentarins. Tinha que fazer alguma coisa. Sabia que Antony ia fazer chover sangue na cidade. Infelizmente, Milo não quis me seguir e continuou com a outra metade dos Guardiões. Ele deu sorte, foi o único poupado pela desgraça que os atingiu meses depois. Sorte minha.

Voltei a favela halfling e dei uma surra definitiva em Tony. Com essa surra, me tornei poderosa, líder do clã Tigermilk, a chefe do clã mais criminoso da cidade. Naquela época, ainda era uma tola deslumbrada por ouro e em mandar nos outros. Ouvia Constantino dizendo que isso estragaria minha vida. Dei bola para esses sermões? Que nada! Voltei a minha vida de golpes, machos aos meus pés e gemas. Foi tudo maravilhoso, mas logo acabou.

Herdei uma paranóia e um desespero junto com o ouro. Darkhold, com a derrota de Antony, tinha perdido um aliado e mandava seus assassinos zhentarins atrás do meu couro toda semana. E eles não eram meus únicos inimigos. Havia também uma guilda humana de ladinos, nossos principais concorrentes. Fora os Escudos Vermelhos, a milícia contratada pelos comerciantes e caravanas de Scornubel. Incrivelmente eu sobrevivi. Não posso dizer isso de muitos dos meus comandados.

Mas a gota d'água chegou. Um grupo de aventureiros intitulados Legião Titã procuraram Constantino, para que eles os informasse sobre uma masmorra sob a cidade. Diziam que eram destinados a serem Lordes de Scornubel e que iriam salvá-la de um semideus maligno. Pense num pessoal prepotente! Devo dizer que eles realmente conseguiram isso, mas a vinda deles trouxe uma consequência ruim sobre minha vida. Atrás deles, veio se instalar na cidade das caravanas uma nova guilda ladina, os Violetas Púrpura, e os desgraçados decidiram se tornar a guilda criminosa principal, eliminando os concorrentes. Debandei meus aliados. Não estava disposta a pagar o preço de sangue. Foi meu pior momento. Graças aos deuses, Constantino novamente me estendeu a mão.

Foi ele que me fez sobreviver a Batalha de Scornubel. Mesmo com o Tarrasque destruindo parte da cidade, uma bruxa controlando constructos e um golem gigante assassino à solta, o exemplo do sacerdote me fez entender que devia ajudar as pessoas com minha liderança e meus ganhos.

Sobrevivi. Ajudei a Constantino a terminar de erguer o templo de Oghma. Recebi notícias de Milo. Lembra que eu disse que ele ficou com a metade do grupo que continuou a missão de pegar um livro sagrado? Bem, eles deviam encontrar um grupo de aventureiros que trazia o livro para eles em um vilarejo isolado de Sembia. Um pouco antes do encontro entre os Guardiões do Conhecimento e o outro grupo, um tal de Flechas Prateadas, Milo fez alguma besteira e perdeu seus poderes druídicos. Teve que se separar também do grupo, para fazer uma comunhão com os deuses da natureza, algo assim. Quando voltou para ponto de encontro, com seus poderes de volta, a maioria deles tinha desaparecido, presos em um outro plano.

Nunca viajei para outro plano. Pode ser um bom reinício para minha vida de aventuras. Quer ir comigo?

sábado, 6 de junho de 2020

25 NPCs - Personagem 10 - Constantino


O mestre do templo apreciava o horizonte, iluminado pelo por do sol. Estava sentado na pequena área de observação de astros celestes. Atrás de si, vinham os barulhos das ferramentas de construção dos pedreiros que terminavam o telhado da pequena torre que dava acesso onde ele estava. Hoje, a construção do templo do Deus Oghma, o Senhor do Conhecimento, terminaria depois de 5 anos. O mestre tentava não transparecer emoção, mas lágrimas em seus olhos o fizeram desabafar:

"Pai, fiz esse templo para você. Descanse junto aos campos divinos".

***

"Jovem Constantino, o fato de seu pai ser um sacerdote andarilho a mando do Forte da Vela não te dá direito a ser displicente nos estudos, nem abusar da hospitalidade daqueles que ofereceram abrigo a sua família. Comporte-se, ou serei obrigado a fazê-lo passar uma noite acordado caçando ratos no celeiro".

Constantino abaixou a cabeça, mas olhou discretamente para régua de madeira que o Sábio Raihlan segurava, enquanto lhe dava uma repreensão. Sabia que seu professor estava certo. Estava faltando as aulas de teologia, para cantar baladas românticas para Roselund, a encantadora auxiliar de cozinha da estalagem. Estalagem essa que recebia estudiosos de toda Faerûn para ter acesso a biblioteca mais famosa e importante de todas. Uma paixão que não podia fazer o jovem negligenciar seus estudos.

"Pegue leve com o garoto, Raihlan. Tim está apenas encantado pela jovem Rose. Aumente a quantidade de livros que ele tem que ler e copiar que esse furor adolescente diminui. Venha, Tim, dá um abraço no seu velho pai."

***

"Mestre Constantino..."

Livro a tiracolo, o idoso clérigo se levanta e acena a cabeça positivamente, autorizando Jurgens, um jovem iniciado do templo, a falar.

"Perdão, Mestre Constantino. Os homens terminaram o telhado. Tudo está pronto lá embaixo para a cerimônia da bênção."

"Ótimo! Vamos!"

Seu livro sagrado, símbolo de sua posição, assim como seu bem mais precioso, nem pesava em suas mãos. O Mestre de Conhecimento Constantino mal conseguia esconder atrás do seu sorriso fino, o orgulho por ver o templo finalmente pronto. Ele arrastava sua mão esquerda por escadas, paredes, estantes, livros... Enquanto fazia isso, rezava silenciosamente, agradecendo as graças de seu patrono divino. O jovem ao lado fingia não notar, bastante impressionado pela sacralidade do momento.

Jurgens ficava quieto enquanto acompanhava seu superior, enquanto seu mestre fazia questão de rezar e abençoar todos os cantos da estrutura construida. Aos poucos, ouvia o burburinho dos outros servos, adeptos e clérigos do templo, assim como os amigos do culto e uma parte da população de Scornubel, que os aguardavam no lado de fora, no jardim externo. Ao chegar no jardim, o iniciado pediu licença e se afastou, enquanto o sacerdote de Oghma se dirigiu ao púlpito.

Constantino ficou impressionado com a quantidade de pessoas que a cerimônia atraiu. Viu vários rostos conhecidos, como os membros sobressalentes do grupo de aventureiros que formou, os Guardiões do Conhecimento - o meio orc valente e poderoso Guldar e a charmosa e esquiva halfling Rana Full Jonah. Via também alguns comerciantes e autoridades da cidade, assim como as pessoas mais importantes para ele, as pessoas que participaram de alguma forma do templo. Aquelas que aprenderam a ler e escrever lá. As pessoas que participam das aulas de músicas. As pessoas que buscavam o conhecimento. As pessoas que procuravam alívio de suas dores e ferimentos. As pessoas que ajudaram a construir esse templo.

"Obrigado a todos por terem vindo. Hoje é um dia muito importante. O fim da construção desta casa, onde vocês podem buscar o conhecimento e a iluminação. Agradeço a contribuição de cada um de vocês. Como vocês sabem, minha vocação é ler e ensinar, não dar discursos. Comam, bebam, sejam abençoados e aproveitem as apresentações dos bardos. Divirtam-se".

O mestre do conhecimento agradeceu e se despediu, saindo da festa antes que se afogasse em lembranças...

***

"Tim, infelizmente não comparecerei em sua consagração como clérigo. Mas por um motivo muito importante. Fui escolhido para recuperar a História do Universo, o diário de Oghma."

"E por que precisa ser você?"

Lancan segurou firme os ombros de seu filho, o jovem Tim de 20 anos, agora casado com Roselund, a paixão da juventude, e falou:

"Porque essa é minha missão sagrada, filho. Desde quando os deuses ficaram, no Tempo das Perturbações, um trio de artefatos se perderam. A Partitura da Música Perfeita do Milil, deus da música; a Pena de Deneir, deus dos escritores e a História. Através de sonhos premunitórios, eu e um clérigo de cada um dos cultos fomos escolhidos para recuperá-los."

Antes que Constantino o interromper, Lancan ergueu a mão e continuou: "Recuperar a História é a coisa mais importante. Todos os fatos passados, presentes e do futuro do Universo estão lá. Se ele cair em mãos erradas, as consequências são inimagináveis. Prometo que voltarei logo."

Um idoso Raihlan aparece no jardim externo do Forte da Vela e interrompe aquela conversa íntima: "Está tudo pronto para partir, Grão Mestre Lancan. Despeça-se de seu genitor, escriba Constantino".

Constantino abraçou seu pai pela última vez...

***

Em frente a porta de seu quarto, enquanto enxugava as lágrimas de sua dolorida lembrança, o mestre do templo é chamado.

"Mestre, mestre Constantino, desculpe incomodá-lo novamente. O grupo que vossa eminência aguardava chegou e encontra-se acomodado na sala de reuniões.

"Jurgens, eles previamente lhe falaram algo da investigação deles?"

"Sim, mestre. Falaram que foram bem sucedidos. Disseram que descobriram onde está a História do Universo."

Uma expressão de exultação aparece no mestre. "Onde?"

"Shadowfell".