sábado, 6 de junho de 2020

25 NPCs - Personagem 10 - Constantino


O mestre do templo apreciava o horizonte, iluminado pelo por do sol. Estava sentado na pequena área de observação de astros celestes. Atrás de si, vinham os barulhos das ferramentas de construção dos pedreiros que terminavam o telhado da pequena torre que dava acesso onde ele estava. Hoje, a construção do templo do Deus Oghma, o Senhor do Conhecimento, terminaria depois de 5 anos. O mestre tentava não transparecer emoção, mas lágrimas em seus olhos o fizeram desabafar:

"Pai, fiz esse templo para você. Descanse junto aos campos divinos".

***

"Jovem Constantino, o fato de seu pai ser um sacerdote andarilho a mando do Forte da Vela não te dá direito a ser displicente nos estudos, nem abusar da hospitalidade daqueles que ofereceram abrigo a sua família. Comporte-se, ou serei obrigado a fazê-lo passar uma noite acordado caçando ratos no celeiro".

Constantino abaixou a cabeça, mas olhou discretamente para régua de madeira que o Sábio Raihlan segurava, enquanto lhe dava uma repreensão. Sabia que seu professor estava certo. Estava faltando as aulas de teologia, para cantar baladas românticas para Roselund, a encantadora auxiliar de cozinha da estalagem. Estalagem essa que recebia estudiosos de toda Faerûn para ter acesso a biblioteca mais famosa e importante de todas. Uma paixão que não podia fazer o jovem negligenciar seus estudos.

"Pegue leve com o garoto, Raihlan. Tim está apenas encantado pela jovem Rose. Aumente a quantidade de livros que ele tem que ler e copiar que esse furor adolescente diminui. Venha, Tim, dá um abraço no seu velho pai."

***

"Mestre Constantino..."

Livro a tiracolo, o idoso clérigo se levanta e acena a cabeça positivamente, autorizando Jurgens, um jovem iniciado do templo, a falar.

"Perdão, Mestre Constantino. Os homens terminaram o telhado. Tudo está pronto lá embaixo para a cerimônia da bênção."

"Ótimo! Vamos!"

Seu livro sagrado, símbolo de sua posição, assim como seu bem mais precioso, nem pesava em suas mãos. O Mestre de Conhecimento Constantino mal conseguia esconder atrás do seu sorriso fino, o orgulho por ver o templo finalmente pronto. Ele arrastava sua mão esquerda por escadas, paredes, estantes, livros... Enquanto fazia isso, rezava silenciosamente, agradecendo as graças de seu patrono divino. O jovem ao lado fingia não notar, bastante impressionado pela sacralidade do momento.

Jurgens ficava quieto enquanto acompanhava seu superior, enquanto seu mestre fazia questão de rezar e abençoar todos os cantos da estrutura construida. Aos poucos, ouvia o burburinho dos outros servos, adeptos e clérigos do templo, assim como os amigos do culto e uma parte da população de Scornubel, que os aguardavam no lado de fora, no jardim externo. Ao chegar no jardim, o iniciado pediu licença e se afastou, enquanto o sacerdote de Oghma se dirigiu ao púlpito.

Constantino ficou impressionado com a quantidade de pessoas que a cerimônia atraiu. Viu vários rostos conhecidos, como os membros sobressalentes do grupo de aventureiros que formou, os Guardiões do Conhecimento - o meio orc valente e poderoso Guldar e a charmosa e esquiva halfling Rana Full Jonah. Via também alguns comerciantes e autoridades da cidade, assim como as pessoas mais importantes para ele, as pessoas que participaram de alguma forma do templo. Aquelas que aprenderam a ler e escrever lá. As pessoas que participam das aulas de músicas. As pessoas que buscavam o conhecimento. As pessoas que procuravam alívio de suas dores e ferimentos. As pessoas que ajudaram a construir esse templo.

"Obrigado a todos por terem vindo. Hoje é um dia muito importante. O fim da construção desta casa, onde vocês podem buscar o conhecimento e a iluminação. Agradeço a contribuição de cada um de vocês. Como vocês sabem, minha vocação é ler e ensinar, não dar discursos. Comam, bebam, sejam abençoados e aproveitem as apresentações dos bardos. Divirtam-se".

O mestre do conhecimento agradeceu e se despediu, saindo da festa antes que se afogasse em lembranças...

***

"Tim, infelizmente não comparecerei em sua consagração como clérigo. Mas por um motivo muito importante. Fui escolhido para recuperar a História do Universo, o diário de Oghma."

"E por que precisa ser você?"

Lancan segurou firme os ombros de seu filho, o jovem Tim de 20 anos, agora casado com Roselund, a paixão da juventude, e falou:

"Porque essa é minha missão sagrada, filho. Desde quando os deuses ficaram, no Tempo das Perturbações, um trio de artefatos se perderam. A Partitura da Música Perfeita do Milil, deus da música; a Pena de Deneir, deus dos escritores e a História. Através de sonhos premunitórios, eu e um clérigo de cada um dos cultos fomos escolhidos para recuperá-los."

Antes que Constantino o interromper, Lancan ergueu a mão e continuou: "Recuperar a História é a coisa mais importante. Todos os fatos passados, presentes e do futuro do Universo estão lá. Se ele cair em mãos erradas, as consequências são inimagináveis. Prometo que voltarei logo."

Um idoso Raihlan aparece no jardim externo do Forte da Vela e interrompe aquela conversa íntima: "Está tudo pronto para partir, Grão Mestre Lancan. Despeça-se de seu genitor, escriba Constantino".

Constantino abraçou seu pai pela última vez...

***

Em frente a porta de seu quarto, enquanto enxugava as lágrimas de sua dolorida lembrança, o mestre do templo é chamado.

"Mestre, mestre Constantino, desculpe incomodá-lo novamente. O grupo que vossa eminência aguardava chegou e encontra-se acomodado na sala de reuniões.

"Jurgens, eles previamente lhe falaram algo da investigação deles?"

"Sim, mestre. Falaram que foram bem sucedidos. Disseram que descobriram onde está a História do Universo."

Uma expressão de exultação aparece no mestre. "Onde?"

"Shadowfell".

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