domingo, 26 de julho de 2020

25 NPCs - Personagem 12 - Guldar Meio Orc


Após contornar as muralhas e chegar ao portão principal da Estalagem Braço Amigo, o capitão da guarda mágica Josh Lightner ajeita-se no seu cavalo, confere se suas roupas estão muito sujas da poeira da estrada e se volta para sua companheira de viagem, uma famosa barda da Costa da Espada, chamada Tune 'Violino de Fogo' Majii.

"Então, depois de meses viajando num lombo de um cavalo, chegamos no ponto de encontro onde vamos encontrar seu herói?"

"Vossa senhoria não precisa de herói, Sir Josh", Tune abriu um sorriso brilhante ao responder, "precisa de um caçador de demônios".

***

Gellana Mirrorshade sempre se impressionava com a força de Guldar Meio Orc. A cada 6 meses, Guldar e sua esposa orc Druga aparecia no Braço Amigo trazendo barris de cerveja orc e ervas medicinais que só existiam em Underdark. Hoje era o dia da entrega. Como sempre, o guerreiro carregava praticamente todos os 5 barris de 20 litros de uma vez para dentro do depósito da estalagem, enquanto Druga trazia as ervas para o templo de Garl Glittergold, O Deus Criador dos Gnomos.

Gellana era gnoma e única clériga responsável pelo templo. No momento, ela auxiliava Druga a descarregar as ervas - assim como evitava que a desajeitada e bruta orquisa derrubasse e/ou destruísse alguns dos móveis e decorações do templo. A gnoma sempre viu o casal como amigos, mas para evitar maiores intrigas, provavelmente vindas de outros hóspedes, intolerantes com a presença de orcs, acompanhava de perto os mesmos. Uma outra voz feminina soou às suas costas, lembrando que ela não estava sozinha enquanto Druga tirava mais uma leva de ervas de sua carroça.

"É verdade que o esposo daquela orquisa ajudou a derrotar um sumo sacerdote de um deus da guerra em um outro plano?"

"Não sei bem da história, mas sim, é verdade, senhora Majii. Não sei dar os detalhes, mas espero que, caso você queira realmente saber sobre isso, pergunte especificamente a Guldar. Druga, a esposa dele, odeia ouvir sobre a vida de aventureiro do companheiro dela. Aproveite e me ajude a colocar esses cogumelos naquela estante, longe do sol."

A barda, depois de oferecer uma rápida ajuda, cumprimentou a sacerdotisa e respondeu, antes de sair do santuário: "Vou aproveitar que o trabalho distancia o casal, para lidar com o meio orc, pois o meu empregador tem uma proposta de trabalho para ele."

***

Alguns minutos depois, Tune Majii estava sentada à mesa, junto a Josh Lightner, no salão da taverna, observando Guldar conversando com o administrador da estalagem, Bentley Mirrorshade.

O cavalheiro arcano ainda não estava convencido sobre o motivo da viagem. Tinha já ouvido algumas das histórias do aventureiro que buscava contratar. O meio orc que Lightner observava não parecia um aventureiro. Parecia um fazendeiro. E ele saiu de Lua Argêntea, a centenas de quilometro de distância, por um meio orc aventureiro que parecia um fazendeiro. Ele terminou sua caneca de cerveja e encarou a barda.

"Lembre-me do que aquele humanóide fez, para fazer valer a pena tudo isso".

***

"Nobre companheiro Guldar, fiquei impressionado de ver a facilidade com que você lidou com esse clã de escravagistas. Por isso, eu, Ted Teodoro III, clérigo de Helm, o convido a faz parte dos Guardiões do Conhecimento em sua próxima missão de carregar um livro sagrado de Silvanus até o Forte da Vela. Podemos contar com seus braços forte e incríveis habilidades de combate."

Guldar coçava a cabeça. Era difícil para ele entender o que o humano fracote, escondidoa trás de pedaços de metal e roupas coloridas, queria com ele. Tinham lutado juntos algumas horas atrás. Uns humanos tinham tentado roubar Guldar e conseguiram. Mas Guldar era bom em reconhecer cheiros e aqueles humanos fediam a erva halfling. O meio orc sabia onde as pessoas iam para fumar erva halfling.

Na época, Guldar era um leão de chácara de um taverneiro em Scornubel. Tinha conseguido esse trabalho depois de uma juventude atribulada. Nela, quase foi morto por um grupo de aventureiros que caçaram o seu grupo de pilhagem orc. Após anos de escravidão, voltou para sua vila orc natal e a encontrou queimada e vazia. Sem encontrar sobreviventes, para conseguir sobreviver, se ofereceu como brutamontes para a primeira companhia mercante que avistou na Estrada do Comércio. Infelizmente, a companhia mercante queria mercenários que pensavam; o forte de Guldar era bater. Logo, a companhia mercante o abandonou em Scornubel. Nesse mesmo dia, ele espancou bêbado humanoides que queriam assassinar o taverneiro por uma dívida de jogo. Ou seja, ganhou seu atual emprego.

"Vai ter briga igual onti? Guldar vai".

Ted Teodoro III deu um sorriso. Queria Guldar como aliado. Ele se lembrou de ontem à noite. Ontem, ele tinha dúvidas se ia sobreviver a um ataque direto a um grupo de bandidos que sequestravam pessoas na cidade, para vendê-los como escravos em alguma terra extremamente longe no sul. Baseado nas dezenas de pessoas que ele viu dentro do cativeiro, em suas investigações, esse ataque seria um suicídio. Mas ele agradeceu a Helm, quando o meio orc surgiu e inesperadamente arrebentou a porta da frente do esconderijo e saiu batendo na maioria deles, gritando "cês vão morrer, cês roubaram Guldaaaaar!"

***

"Quê que ceis querem comigo?"    

Guldar bebia com nenhuma delicadeza a caneca de cerveja, derramando um terço dela pelos lábios. A barda sentia que o incômodo que o cavalheiro arcano das Fronteiras Prateadas, que estava sentando ao seu lado, crescia mais e mais e decidiu rapidamente que devia lembrar de outra história do guerreiro de cara porcupina.

"Sr. Guldar, meu empregado, senhor Josh Lightner, deseja contratá-lo. Mas primeiramente ele gostaria de saber se são verdade algumas de suas histórias. Pois em uma delas, você mostra uma qualidade que ele precisa.  Posso contá-las e você confirma, certo?"

"Desembucha, (arroto), fêmea!"

"Soube que você defendeu uma caravana que trazia um artefato divino, o Livro da Flora de Silvanus, de bandidos, demônios e até de um dragão. Não foi isso?"

"Isso mermo, moça. Bati pouco nesse serviço. Mal alembrava."

Majii viu que a resposta do meio orc tinha despertado o interesse de Lightner. Portanto, era hora de continuar a contar os feitos do futuro contratado. "Já contei ao meu companheiro que você derrotou um sumo-sacerdote do..."

Guldar bate na mesa revoltado e interrompe a história. "Matei aquele desgramado. Guldar chateado, perdeu mangual que quebrou a cabeça dele. Lembrança ruim. Beeeentlei, cervejaaaa!"

A barda segurou a risada e continuou seu texto preparado mentalmente, desde que a guarda arcana lhe procurou em Lua Argêntea para achar um caçador. "Sr. Guldar, conte-nos de quando você acabou com culto macabro que seu filho fez parte."

Guldar segurou forte na mesa. A história que a fêmea humana lembrou ainda lhe trazia uma raiva descomunal.

"Aqueles demônio queria roubar meu fiooooo!"

***

A missão dos Guardiões do Conhecimento foi cumprida. Depois de cumprida, Ted Teodoro III morreu e o grupo foi desfeito. Quando a tristeza de não mais ser aventureiro se apoderava do guerreiro meio orc, uma feiticeira de outro mundo lhe convocou para uma aventura.

Novamente, Guldar cumpriu sua missão e teve que voltar para seu mundo. A felicidade que tinha em lutar tinha acabado mais uma vez. Voltou a taverna que ele trabalhava, mas seu dono decidiu abandonar o negócio e repassou para ele. Como o guerreiro não entendia bem do negócio, pouco tempo depois a fechou.  A sensação de tudo o que tinha de bom na vida dele, principalmente naquela cidade, tinha terminado cresceu em sua mente.  Ele decidiu que era hora de voltar para casa.

A volta ao lar trouxe boas notícias. A vila orc foi reconstruída. Drusa, a orquisa que tinha o iniciado ao sexo, estava viva e tinha engravidado de um filho dele, Bali, já crescido. Era a felicidade que Guldar queria.  Junto com bater nos outros.

A vida de Guldar foi tranquila por alguns anos, tirando as ocasionais agressões que recebia da esposa, quando ele fazia (ou não fazia) algo errado. O estilo de aventureiro ainda lhe atraia, mas goles de cerveja apagavam essa vontade.

Drusa lhe deu alguns murros para passar a bebedeira em uma madrugada. O filho dos dois havia desaparecido a mais de uma semana. Na barraca onde Bali dormia, havia símbolos macabros e sangue. Ele seguiu o cheiro de morte.

Alguns quilometro depois, Guldar achou a ruína de onde vinha o cheiro. Lá, orcs e meio orcs de sua vila passavam por uma transformação. Ao se aliar com tieflings e demônios através de um ritual profano, os membros de sua raça se tornavam Tanarukks. Na fila para se tornar essa abominação estava Bali.

Uma fúria tomou Guldar. O guerreiro brutal voltou. E só descansou quando derrubou todos e carregou seu filho de volta a vila. Após uma discussão acalourada, entregou seu filho para Drusa cuidá-lo, enquanto voltava a ruína ocupada pelo culto demoníaco. Ele queria ter certeza de que não havia deixado sobreviventes. Na local do ritual profano, ele contou com dificuldade os corpos. Não sabia se tinha matado todos, mas teve a certeza dentro de si de que o demônio que dominava aquele culto tinha escapado. Guldar jurou que ia encontrá-lo. O filho de mais ninguém seria transformado em nada tão macabro enquanto ele vivesse.

***

Josh Lightner tinha ouvido a história do massacre contra o culto de demônios e tinha entendido a mensagem, mesmo com as dificuldades que o meio orc tinha ao falar. Tinha encontrado ali o guerreiro que precisava. Sua terra estava sendo ameaçada por criaturas demoníacas e ele tinha em sua frente a pessoa certa para detê-las. Guldar Meio Orc.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

25 NPCs - Personagem 11 - Rana Full Jonah



Preciso deixar Scornubel. Vou aceitar fazer a nova missão e quem sabe depois, aceitar o convite de Milo e ir para sua vila de halflings perdidas em Cormanthor. Mas preciso me juntar ao um grupo de aventureiros para fazer essa imagem. Scornubel me cansou.

Acho que meus principais momentos felizes aconteceram fora da cidade. Não que eu me lembre de tudo. Longe disso. Mas sei de onde veio meu apelido. Veio de criança, da favela halfling, um punhado de barracos localizados ao norte da Cidade das Caravanas. Minha família foi para lá porque viram uma oportunidade de trabalho. Acabaram sendo esplorados. E não adiantou tentar voltar para sua terra ancestral, Luiren. Perderam suas riquezas, enganados por outros halflings. Restou viver na favela halfling.

O desgosto por ter levado esse golpe com certeza ajudaram meus pais irem para o além. Mas nessa época, eu, Rana Jonah, já tinha aceito meu apelido - vergonha não é fugir, vergonha é morrer - e já vivia de furtar e aplicar pequenos golpes nos "inteligentes humanos" da cidade. A tiracolo, tinha meu irmão menor, o invejoso Antony.

Ele mais me atrapalhava do que me ajudava. Sempre disse a ele que o moleque era incapaz de viver na vida de crimes. Tony era teimoso. Tão teimoso que, para provar que era melhor ladino do que eu, se associou a gangue do líder bandido Ralf Tigermilk. Começou a fazer uns assaltos para ele e pior, Tony começou a pegar dinheiro emprestado.

Você acredita que o idiota de meu irmão perdeu 2000 peças de ouro do cara mais maligno do seu bairro? Foi exatamente esse o vacilo que ele cometeu. Sobrou para quem? Para mim, claro. Ralf se viu com o direito de cobrar a dívida, querendo me obrigar a ser sua escrava.

Passei por mal bocados e fugi dos seus homens enquanto dava. Estava prestes a ser capturada, quando Constantino, um clérigo de Oghma, e seu bando de metidos a aventureiros entraram na confusão e salvaram minha pele.

Lógico que depois topei fazer parte dos Guardiões do Conhecimento. Constantino, o líder dele, era o dono do ouro. Ele queria construir um templo. Isso custa muito dinheiro. Logo, ia receber minha parte também. Ele estava atrás também de livros raros e artefatos. Fazendo as contas, isso seria mais ouro no meu bolso e me deixava bem longe dos Tigermilks.

Foram meses divertidos numa caravana, mesmo com todos os inimigos e confusões. Lá aprendi o que era ter companheiros. Pena que depois da nossa primeira missão bem sucedida - levar um livro sagrado do culto do deus da Natureza ao Forte da Vela - logo após voltarmos a Scornubel, o bardo do grupo se provou um maldito traidor. Nessa intriga perdemos o elfo bárbaro - concordo com isso, elfo bárbaro é bem estranho - a meio elfa feiticeira, ex-namorada do nobre clérigo - coitado, morreu algumas semanas antes da traição, morto por um carniçal, acho que ele não fez as preces para Tymora - e o cachorrinho lindo, a montaria da paladina halfing do grupo.

Mas superei toda essa confusão. Pode notar que nem lembro os nomes deles. Não sou boa de lembrar nomes mesmo. De sobreviventes dos primeiro grupo de Guardiões, sobrou apenas eu e Guldar, meu companheiro meio orc que cortou o bardo traidor ao meio, assim como aquela Paladina chata.

Ganhei tanto ouro. E gastei ele todo. Então cobrei de Constantino, "chefe, quero outra viagem". Ele não me decepcionou. Mandou a gente ir atrás de outro livro sagrado. Mais promessa de ouro no meus bolsos. Lá vou com um grupo quase novo. Tinha até um druida gatinho, um halfling chamado Milo, mas ele era muito grudento, eu não iria ceder aos charmes dele. Infelizmente, no meio do caminho, houve um racha.

Metade do grupo se separou. Nessa metade, cada um deles tinha questões pessoais a resolver. Eu estava nesse grupo. Meu irmãozinho tinha assumido a liderança dos Tigermilks e pretendia alia-los aos Zhentarins. Tinha que fazer alguma coisa. Sabia que Antony ia fazer chover sangue na cidade. Infelizmente, Milo não quis me seguir e continuou com a outra metade dos Guardiões. Ele deu sorte, foi o único poupado pela desgraça que os atingiu meses depois. Sorte minha.

Voltei a favela halfling e dei uma surra definitiva em Tony. Com essa surra, me tornei poderosa, líder do clã Tigermilk, a chefe do clã mais criminoso da cidade. Naquela época, ainda era uma tola deslumbrada por ouro e em mandar nos outros. Ouvia Constantino dizendo que isso estragaria minha vida. Dei bola para esses sermões? Que nada! Voltei a minha vida de golpes, machos aos meus pés e gemas. Foi tudo maravilhoso, mas logo acabou.

Herdei uma paranóia e um desespero junto com o ouro. Darkhold, com a derrota de Antony, tinha perdido um aliado e mandava seus assassinos zhentarins atrás do meu couro toda semana. E eles não eram meus únicos inimigos. Havia também uma guilda humana de ladinos, nossos principais concorrentes. Fora os Escudos Vermelhos, a milícia contratada pelos comerciantes e caravanas de Scornubel. Incrivelmente eu sobrevivi. Não posso dizer isso de muitos dos meus comandados.

Mas a gota d'água chegou. Um grupo de aventureiros intitulados Legião Titã procuraram Constantino, para que eles os informasse sobre uma masmorra sob a cidade. Diziam que eram destinados a serem Lordes de Scornubel e que iriam salvá-la de um semideus maligno. Pense num pessoal prepotente! Devo dizer que eles realmente conseguiram isso, mas a vinda deles trouxe uma consequência ruim sobre minha vida. Atrás deles, veio se instalar na cidade das caravanas uma nova guilda ladina, os Violetas Púrpura, e os desgraçados decidiram se tornar a guilda criminosa principal, eliminando os concorrentes. Debandei meus aliados. Não estava disposta a pagar o preço de sangue. Foi meu pior momento. Graças aos deuses, Constantino novamente me estendeu a mão.

Foi ele que me fez sobreviver a Batalha de Scornubel. Mesmo com o Tarrasque destruindo parte da cidade, uma bruxa controlando constructos e um golem gigante assassino à solta, o exemplo do sacerdote me fez entender que devia ajudar as pessoas com minha liderança e meus ganhos.

Sobrevivi. Ajudei a Constantino a terminar de erguer o templo de Oghma. Recebi notícias de Milo. Lembra que eu disse que ele ficou com a metade do grupo que continuou a missão de pegar um livro sagrado? Bem, eles deviam encontrar um grupo de aventureiros que trazia o livro para eles em um vilarejo isolado de Sembia. Um pouco antes do encontro entre os Guardiões do Conhecimento e o outro grupo, um tal de Flechas Prateadas, Milo fez alguma besteira e perdeu seus poderes druídicos. Teve que se separar também do grupo, para fazer uma comunhão com os deuses da natureza, algo assim. Quando voltou para ponto de encontro, com seus poderes de volta, a maioria deles tinha desaparecido, presos em um outro plano.

Nunca viajei para outro plano. Pode ser um bom reinício para minha vida de aventuras. Quer ir comigo?

sábado, 6 de junho de 2020

25 NPCs - Personagem 10 - Constantino


O mestre do templo apreciava o horizonte, iluminado pelo por do sol. Estava sentado na pequena área de observação de astros celestes. Atrás de si, vinham os barulhos das ferramentas de construção dos pedreiros que terminavam o telhado da pequena torre que dava acesso onde ele estava. Hoje, a construção do templo do Deus Oghma, o Senhor do Conhecimento, terminaria depois de 5 anos. O mestre tentava não transparecer emoção, mas lágrimas em seus olhos o fizeram desabafar:

"Pai, fiz esse templo para você. Descanse junto aos campos divinos".

***

"Jovem Constantino, o fato de seu pai ser um sacerdote andarilho a mando do Forte da Vela não te dá direito a ser displicente nos estudos, nem abusar da hospitalidade daqueles que ofereceram abrigo a sua família. Comporte-se, ou serei obrigado a fazê-lo passar uma noite acordado caçando ratos no celeiro".

Constantino abaixou a cabeça, mas olhou discretamente para régua de madeira que o Sábio Raihlan segurava, enquanto lhe dava uma repreensão. Sabia que seu professor estava certo. Estava faltando as aulas de teologia, para cantar baladas românticas para Roselund, a encantadora auxiliar de cozinha da estalagem. Estalagem essa que recebia estudiosos de toda Faerûn para ter acesso a biblioteca mais famosa e importante de todas. Uma paixão que não podia fazer o jovem negligenciar seus estudos.

"Pegue leve com o garoto, Raihlan. Tim está apenas encantado pela jovem Rose. Aumente a quantidade de livros que ele tem que ler e copiar que esse furor adolescente diminui. Venha, Tim, dá um abraço no seu velho pai."

***

"Mestre Constantino..."

Livro a tiracolo, o idoso clérigo se levanta e acena a cabeça positivamente, autorizando Jurgens, um jovem iniciado do templo, a falar.

"Perdão, Mestre Constantino. Os homens terminaram o telhado. Tudo está pronto lá embaixo para a cerimônia da bênção."

"Ótimo! Vamos!"

Seu livro sagrado, símbolo de sua posição, assim como seu bem mais precioso, nem pesava em suas mãos. O Mestre de Conhecimento Constantino mal conseguia esconder atrás do seu sorriso fino, o orgulho por ver o templo finalmente pronto. Ele arrastava sua mão esquerda por escadas, paredes, estantes, livros... Enquanto fazia isso, rezava silenciosamente, agradecendo as graças de seu patrono divino. O jovem ao lado fingia não notar, bastante impressionado pela sacralidade do momento.

Jurgens ficava quieto enquanto acompanhava seu superior, enquanto seu mestre fazia questão de rezar e abençoar todos os cantos da estrutura construida. Aos poucos, ouvia o burburinho dos outros servos, adeptos e clérigos do templo, assim como os amigos do culto e uma parte da população de Scornubel, que os aguardavam no lado de fora, no jardim externo. Ao chegar no jardim, o iniciado pediu licença e se afastou, enquanto o sacerdote de Oghma se dirigiu ao púlpito.

Constantino ficou impressionado com a quantidade de pessoas que a cerimônia atraiu. Viu vários rostos conhecidos, como os membros sobressalentes do grupo de aventureiros que formou, os Guardiões do Conhecimento - o meio orc valente e poderoso Guldar e a charmosa e esquiva halfling Rana Full Jonah. Via também alguns comerciantes e autoridades da cidade, assim como as pessoas mais importantes para ele, as pessoas que participaram de alguma forma do templo. Aquelas que aprenderam a ler e escrever lá. As pessoas que participam das aulas de músicas. As pessoas que buscavam o conhecimento. As pessoas que procuravam alívio de suas dores e ferimentos. As pessoas que ajudaram a construir esse templo.

"Obrigado a todos por terem vindo. Hoje é um dia muito importante. O fim da construção desta casa, onde vocês podem buscar o conhecimento e a iluminação. Agradeço a contribuição de cada um de vocês. Como vocês sabem, minha vocação é ler e ensinar, não dar discursos. Comam, bebam, sejam abençoados e aproveitem as apresentações dos bardos. Divirtam-se".

O mestre do conhecimento agradeceu e se despediu, saindo da festa antes que se afogasse em lembranças...

***

"Tim, infelizmente não comparecerei em sua consagração como clérigo. Mas por um motivo muito importante. Fui escolhido para recuperar a História do Universo, o diário de Oghma."

"E por que precisa ser você?"

Lancan segurou firme os ombros de seu filho, o jovem Tim de 20 anos, agora casado com Roselund, a paixão da juventude, e falou:

"Porque essa é minha missão sagrada, filho. Desde quando os deuses ficaram, no Tempo das Perturbações, um trio de artefatos se perderam. A Partitura da Música Perfeita do Milil, deus da música; a Pena de Deneir, deus dos escritores e a História. Através de sonhos premunitórios, eu e um clérigo de cada um dos cultos fomos escolhidos para recuperá-los."

Antes que Constantino o interromper, Lancan ergueu a mão e continuou: "Recuperar a História é a coisa mais importante. Todos os fatos passados, presentes e do futuro do Universo estão lá. Se ele cair em mãos erradas, as consequências são inimagináveis. Prometo que voltarei logo."

Um idoso Raihlan aparece no jardim externo do Forte da Vela e interrompe aquela conversa íntima: "Está tudo pronto para partir, Grão Mestre Lancan. Despeça-se de seu genitor, escriba Constantino".

Constantino abraçou seu pai pela última vez...

***

Em frente a porta de seu quarto, enquanto enxugava as lágrimas de sua dolorida lembrança, o mestre do templo é chamado.

"Mestre, mestre Constantino, desculpe incomodá-lo novamente. O grupo que vossa eminência aguardava chegou e encontra-se acomodado na sala de reuniões.

"Jurgens, eles previamente lhe falaram algo da investigação deles?"

"Sim, mestre. Falaram que foram bem sucedidos. Disseram que descobriram onde está a História do Universo."

Uma expressão de exultação aparece no mestre. "Onde?"

"Shadowfell".

sexta-feira, 15 de maio de 2020

25 NPCs - Personagem 9 - Sebastian Tax

Sir Edgard Salvati olha o fundo do seu copo de vidro vazio. Sua garrafa de vinho também estava vazia. E Selûne mal havia aparecido nos céus. Aquela seria mais uma noite tediosa para o ilustríssimo cavaleiro da Ordem de Exploradores e Aventureiros de Cormyr. Naquela dezena, o nobre cormyriano acompanhava um companheiro de seu grupo de lordes em uma missão arcana. Missão essa que ele realmente esperava que lhe proporcionasse emoções, como um bom combate, jovens camponesas ansiosas por atenção ou uma montanha de moedas de ouros vinda de butim do líder globinoíde derrotado por suas lâminas. 

Na realidade, os dias consistiam em observar de dentro de sua tenda, um excêntrico mago chamado Galvan "reconstituindo a Trama" nas Terras de Helm. Aparentemente, onde estavam acampados, a magia não funcionava e o mago passava o tempo inteiro circulando por um terreno de alguns metros de extensão, com uma engenhoca mística, que Sir Edgard acreditava que não funcionava também. Lorde Salvati decidiu se levantar, ir lá fora e colocar algum senso no praticante da arte. Ele não pretendia passar mais um dia lá, principalmente depois que seu estoque pessoal de vinho ter esgotado. Ao se levantar, uma luz verde invadiu a tenda. O cormyriano perdeu alguns segundos para perceber que a luz não era um efeito pessoal da bebida.

Lá fora, Salvati viu a origem da luminosidade. Desmentindo o colega explorador, um portal esverdeado se abria no ar puxando Galvan, que flutuava alguns centímetros do chão, preso apenas por seu cajado pregado no solo.

"Galvan, o que faço?". Edgard desembainhou sua espada, ao mesmo tempo que notava a inutilidade de seu ato. O mago não teve tempo de responder. O portal foi mais forte e o tragou para seu vórtice. Antes de se fechar, o portal proporcionou outro efeito mágico inexplicável para o explorador cormyriano. Para sua mente que pouco entendia da Arte, a luz verde tinha cuspindo um humanóide no lugar de seu colega mago.

***

Ouço passo e conjurações arcanas sendo feitas. O pior é que não sei se isso é efeito dessa masmorra carregada de ilusões. Hora de atrapalhar a conversa. Estou aqui para teleportá-los, foi pago para isso, inclusive, não para enfrentar... Merda, magos vermelhos, tatuagens em suas cabeças carecas, merda. Magos Vermelhos de Thay!

Corro e sou recebido por uma chuvarada de mísseis mágicos e flechas ácidas. Grito, 'vamos, essa luta não é nossa'. Obrigado, Tymora, por eles estarem juntos! Hora de levá-los para a fazenda dos Flechas. Gestos e palavras arcanas entoadas, mas um calor supremo me abate após a conjuração.

Acordo e vejo todos atordoados. Nenhum deles e nem eu fazemos ideia de onde estamos. Sei que é o Norte, mas quando busco detalhes na minha mente, a dor invade. Parte do meu corpo queima, resultado de uma bola de fogo. Mas não é minha única dor. Uma pressão me puxa. Vejo um portal se abrir em minhas costas antes que eu novamente apague...

***

Após horas de vigília cuidando do humano ferido que atravessou o portal mágico, Edgard serve um pouco de água para o recém acordado.

"Seja bem-vindo ao mundo dos vivos, rapaz. Eu sou Sir Edgard Salvati, cavalheiro da Ordem dos Exploradores e Aventureiros de Cormyr e você está em minha tenda, descansando."

"Obrigado, senhor... Edgard?"

"Exatamente, rapaz, exatamente. Como se sentes? Suas queimaduras estavam piores quando eu o trouxe para cá, mas acho que as compressas de água fizeram seu bom serviço."

"Acho que estou bem para quem foi ferido pelo poder arcano máximo de uma bola de fogo e ter sido forçadamente tragado por um portal. Sebastian Tax, por falar de nomes, ao seu serviço. Onde estamos?"

"Ao norte de Arabel, em Cormyr, em algum lugar dessas áridas Terras de Helm."

Sebastian se senta na cama, estende o braço em agradecimento ao estranho que o ajudou e lhe dá um meio sorriso. "Estou em casa."

***

"Filho, você não vai ser iniciado dos Magos de Guerra Púrpura. Seus poderes mágicos são imprevisíveis. Eu, Morgan Tax, não permitirei."

Sinto a fúria, junto com minha energia arcana pronta para ser lançada de minhas mãos. Meu pai. Meu próprio pai não acredita no meu potencial. Paro os gestos arcanos no último segundo e dou as costas. Vou pegar minhas coisas e partir. O nojo na voz dele serve como combustível na minha decisão.

Flix, meu familiar, lambe meu rosto, como quisesse se desculpar de alguma travessura que tinha feito. Minha raiva não era com ele. E não é apenas com meu pai. É com a escola dos Magos que me rejeitava, é com minha mãe, que não conheci.

Saio de Arabel pedindo desculpas a minha mãe. O culpado por sua morte numa estrada nas Terras de Helm fui eu. Meu parto a matou.

***

"Jovem, presta atenção na estada". Edgard puxava as rédeas do seu alazão. Seu companheiro de estrada parecia perdido em pensamentos e a égua que ele montava, herdada do desaparecimento de Galvan, aproveitava para mascar grama.

O feiticeiro sai de sua distração e dá ordem para sua montaria seguir.

Salvati coça seu cavanhaque e analisa seu novo companheiro de viagem. Mais um arcano, sem engenhocas místicas, sem nenhuma informação de onde estaria Galvan, com uma incrível recuperação física e estranhas bolhas místicas flutuando ao redor do seu manto. "Devia ter estudado mais tratados arcanos ao invés de participar dos desafios físicos da Ordem."

"Sir Edgard, desculpe pela distração. Falava sobre o que?"

"Pensando alto. Mas sim, jovem compatriota, pretendes ficam em Arabel? Tens estadia lá? Posso oferecer as regalias da casa local da Ordem dos Exploradores. Inclusive, ela já foi reconstruida após os ataques da Guerra Goblin. Depois de lá, você poderia minha acompanhar a capital, Suzail."

"Só de passagem. Vou visitar um amigo cervejeiro e voltar para meu grupo atual, os Flechas Prateadas do Vale do Arco. Gostaria de agradecer novamente a ajuda. Devolverei também a égua. Não garanto, mas tentarei encontrar seu companheiro. Coisas ruins acontecem aos que andam comigo por causa dos meus poderes mágicos. Não vou levar a sua sorte ao limite."

Edgard dá uma leve risada. Acena positivamente para Sebastian e se volta para o horizonte. Ele estima que está a meia hora da cidade de Arabel. Ele revisa mentalmente as últimas coisas que o arcano lhe disse e se lembra das várias explorações de sucesso, onde encarou destemidamente o perigo. "Você não conhece minha estirpe, garoto".

***

"Sebastian, seu poder arcano é incrível. Você é um condutor de magia, magia essa em seu estado mais cru, mais bruto, mais selvagem. Não conheço nenhum feiticeiro com essa magnitude de poder. Mas vi registros dessa magia selvagem em livros que falam do Tempo das Perturbações, a época que os deuses vieram para Faerûn como mortais. Da época que Mystra foi destruída por enfrentar Helm."

"E para que serve esse poder, se ele sempre falha comigo, Pieter? Para que?! Ele é uma maldição. Quando estávamos presos no Plano das Sombras, eles falharam. Pior ainda, eles chegaram a fortalecer magicamente nossos inimigos. Poucos dos Flechas Prateadas que me acompanhavam nessa aventura voltaram comigo e nem sabemos se aqueles que não conseguiram sair do plano estão vivos."

"Pode ser uma maldição. Mas é a sua maldição. Somente você pode lidar com ela. Assim como só você pode lidar com a dor de nossos companheiros  que foram presos no domínio das sombras. Espero que de alguma forma, eles estejam vivos e que de alguma forma, possamos resgatá-los. Acho que isso pode apaziguar sua culpa. Se você precisar de ajuda, estarei na Torre Fabulosa e lá existem ferramentas para que você possa desenvolver e quem sabe controlar a arte. Sabe onde me encontrar."

 ***

A chuva castigava. Suas roupas pesavam, castigando ainda mais seu corpo flagelado por longos períodos sem alimentar. Apenas a vontade de se vingar mantinha Edgard de pé. Agora era um desgraçado ex membro da Ordem dos Exploradores e Aventureiros de Cormyr. Galvan foi encontrado morto por goblins nas Fronteiras Prateadas por um parente. Parente esse que era um nobre de grande importância, com status superior na realeza cormyriana.  Usando da influência, acusou Salvati de negligência em seu contrato de proteção. Seus companheiros de clube concordaram com sua expulsão. Edgard se tornou um indesejado. Perdeu suas posses e sua honra. Agora ele estava no Vale do Arco para tomar a vida de Sebastian Tax. Aquele que o nobre amaldiçoado avistava a poucos metros de distância, sentado distraído junto ao portão de uma fazenda.

"Sebastian, aqui é Sir Edgard Salvati, aquele cuja vida foi desgraçada por te ajudar, por sua presença. Aproxime-se e enfrente sua última luta, arcano maldito."

O explorador viu quando Tax acenou para outras pessoas que estavam ali. Sua luta não teria interferências. Mas logo foi ficando mais enraivado, pois o feiticeiro se aproximava dele de uma forma displicente, devagar, como se tivesse prestes a fugir. A lâmina de sua espada longa beberia bastante do sangue dele. A fuga não era opção para seu adversário.

Mais uma vida que desgracei alguém com essa magia selvagem. Se ele acha que deve tomar minha vida e me livrar do fado de ter esse poder, que seja. Estou cansado de não controlá-lo. Fortalecerei a espada dele com uma aura que a tornará mais mortífera. Encontrarei os deuses mais rápido.

Mesmo com dificuldade de firmar o equilíbrio no solo molhado, Edgard avançou com uma investida. Ele sabia que com essa manobra, rasgaria de cima a baixo o corpo do inimigo, mesmo estando fraco como estava. Mas ao se aproximar, viu o arcano gesticular runas numa linguagem estranha. Em frações de segundo, as runas atingiam sua espada e sua armadura. Ele escorregou tentando desviar da magia, mas não conseguiu. O corpo de Salvati não tinha condições físicas de se levantar com aquela armadura metalica pesada que vestia, mas ele se levantou. Levantou para sentir uma dor excruciante. Sua arma estava em chamas, assim como sua armadura e seu corpo. Literalmente cozinhava. Mas o que finalmente lhe derrotou foi ver a cara de nojo do seu adversário ao vê-lo sucumbir. Caiu e se entregou a morte.
Não! Não! Pelos Deuses, não! Não era esse efeito mágico! Lágrimas caem, meus joelhos cedem. Minha maldição funcionou novamente.

domingo, 12 de abril de 2020

25 Npcs - Personagem 8 - Pieter Borsch, parte 2 - Disputa pela Torre Fabulosa

"Caro Rafiq,

Nessa segunda carta para ti, quero já deixar claro. Não, realmente não sei toda a extensão dos poderes, itens e efeitos mágicos que Tarmud deixou no interior da Torre Fabulosa. Acredite! Talvez algum dia, os Flechas Prateadas tenham um arquimago extremamente capaz, que mereça ser o dono da Torre. Nunca fui seu verdadeiro dono e paguei caro por isso.

Mas essa carta é para falar sobre como fiz parte dos Flechas. Bem, determinado dia, recebemos informes de poucos sobreviventes, de que vilas na fronteira do Vale do Borla com a Floresta do Arco, teriam sido chacinadas. Por ser seu conselheiro arcano, Lorde Euphemes me enviou com uma pequena patrulha para investigar. Na visita na primeira vila, chegamos em plena noite e nos recolhemos numa estalagem local. No meio da madrugada, o único clérigo de sua patrulha foi atacado e estripado. Quando o encontramos morto em seu quarto, não achamos nem sinal do assassino. Pensei em voltar a capital, pois com a morte do clérigo, tínhamos perdido o nosso principal investigador do que vinha causando as chacinas. A insistência dos soldados, que pediram que eu continuasse a missão, levando em consideração a vida perdida do seus compatriotas, me fez continuar a investigação.

Naquela vila e nas próximas dias, inquirimos que todas as vítimas foram mortas por flechas, aparentemente feitas por elfos espectrais da Floresta do Arco. Ao chegar a terceira vila, a vila de Ralsac, meus homens se descontrolaram ao ver uma família de elfo espectrais morando lá. Eles tinham saído incólumes do ataque e testemunharam aos poucos que quiseram escutar de que um clã de orcs tinham feito o ataque, não elfos da floresta vizinha. Travei combate com eles, tentei apenas incapacitá-los, mas o número maior deles conseguiu me derrotar.

Felizmente, eles foram impedidos por um grupo de aventureiros, os Flechas Prateadas originais. Depois de derrotar meus soldados, eles me soltaram e apresentaram a todos provas de manipulação. A família élfica estava certa. Grupo de orcs estavam atacando vilas fronteiriças, matando e plantando flechas élficas para provocar uma nova guerra entre os vales do Borla e do Arco. Claramente, alguém bastante inteligente estava atrás desse plano. Soube do líder dos Flechas, Rudolph "Meias Longas", que havia um arauto incentivando a guerra do lado do Vale do Arco, que o mesmo suspeitava que seria comandante dos orcs. Decidi enviar um mensageiro para a capital, os soldados para a vila mais próxima e segui para Floresta do Arco com os Flechas.

Enfrentamos duas tropas de orcs infiltrados na região e vencemos. Alguns dias depois, fomos abordados por elfos selvagens e conduzimos a uma vila. Lá encontramos o Arauto em uma reunião para formar tropas de ataque. Depois que provamos que seríamos possíveis aliados nessa guerra, nosso ladino Johnny Cabelinho entrou no quarto do Arauto e encontrou provas de que ele seria o líder dos orcs. Quando pretendíamos capturá-lo, um ataque surpresa de orcs acontece. Nós os derrotamos, mas o líder elfo foi gravemente ferido. Tivemos que lidar com uma escolha: ir atrás do Arauto, que tinha fugido ou conduzir o líder elfo para o templo mais próximo.

Os Flechas decidiram escoltar o elfo. Um dia de viagem depois, um alarme mágico disparou em minha mente. a Torre Fabulosa estava sendo invadida. Um portal se abriu para me conduzir de volta. Apenas Zafira, a cavalheira se ofereceu para me acompanhar. Ao passar pelo portal, um grupo de orcs tentava saquear meu lar. Quem os comandava? O Arauto. Infelizmente o maldito tomou posse num pergaminho de teleporte e fugiu novamente dizendo que "voltaria, porque ele era o verdadeiro dono da Torre".

A vitória me aproximou ainda mais de Zafira e uma paixão surgiu entre nós. Larguei o conselho e o Vale do Borla por ela. Teleportei minha torre para Ordulin, em Sembia (pagando todas as autorizações e taxas possíveis e impossíveis sembianas) e vivi algumas semanas de amor. Após esse tempo, Zafira me convenceu a me juntar novamente aos Flechas, pois sua família fazia parte desse grupo de aventureiros/caravaneiros. Fiz um acordo com Rundolph e tornei a torre a representação em Sembia dos Flechas Prateadas.

Rafiq, não preciso lhe contar todas as aventuras que vive. Acho inclusive que você já sabe sobre as principais. Sabe bem da Guerra dos Vales, onde derrotamos um Rei Bugbear que conseguiu uma improvável união entre goblinoides e elfos drows. Quem era o mago escorregadio que planejava suas ações do Rei Bugbear? O Arauto. Novamente, o confrontei, mas perdi. Felizmente, fui trazido das garras da morte por Lara, clériga de Selune, irma de Zafira. Entre os tesouros do Rei Bugbear, encontramos o diário do Arauto. Lembra-se da minha última carta que lhe enviei? O nome do meu inimigo era Telurius. Sim, se ainda não ficou claro, o mago inimigo era o herdeiro da Torre Fabulosa, o assassino do meu mestre. E ele tinha feito tudo isso para conseguir um artefato dentro da torre. Depois disso, Telurius desapareceu. Tentei incontáveis vezes descobrir onde estava esse artefato ou o que ele fazia. Somente descobri futuramente, da pior forma.

Cinco anos depois, Zafira e eu continuávamos juntos, nos amando. Tinha transformado a Torre Fabulosa em uma escola de magia, era o responsável pela parte financeira da caravana dos Flechas e pensávamos em ter filhos. Mas Telurius ainda não tinha desistido. A nata da sociedade Sembiana visitava a torre na noite da formatura dos primeiros alunos arcanos. Lembro de como Zafira estava maravilhosa naquela noite. Abracei minha amada e a beijei como se fosse a última vez. E era a última vez.

Após uma chuva de efeitos pirotécnicos, um dragão negro atacou os jardins da festa de surpresa. Enquanto Zafira e alguns membros do Prateadas enfrentavam a criatura draconiana, eu e os outros conduzimos as vítimas para a Torre. Lá, tive que enfrentam outros inimigos. Nossa escola arcana tinha um mestre para todas as escolas arcanas, menos a necromancia. Quando entramos na torre, três dos mestres arcanos que eu contratei nos atacaram. Aparentemente, enfeitiçados pela mestra do Encantamento, Riva Tretogor. Enquanto enfrentamos Riva e os enfeitiçados, o amante de Riva obtinha o artefato, uma flauta carregada do poder de um deus morto-vivo marinho. Finalmente, Telurius tinha conseguido seu objetivo. Dessa vez, nem mesmo uma horda de afogados me impediu de matar Telirius. Mas a vitória na minha vida sempre tem gosto amargo. Não comemorei a vitória, pois minha esposa estava morta debaixo da carcaça sem vida do dragão negro.

A dor me fez me afastar da vida de aventureiro. Andar com os Flechas me lembrava da perda de Zafira. A escola também tinha acabado. Ninguém estudaria num lugar que guardava um artefato tão maldito. Iria me perder em garrafas de bebida quando fui chamado para ser conselheiro de Lorde Euphemes II. Voltar ao Vale do Borla me fez focar novamente. Não era mais aventureiro, meus talentos em governar e aconselhar estavam sendo utilizados. Mas a maldade sempre espreita. Após um ano, Lorde Euphemes II começou a não me ouvir mais e a cidade começou a cair em decadência, dominada por um clã criminoso de homens-rato. Como conselheiro, eu não conseguia lidar com a destruição de um governo. Mas poderia lidar com isso como aventureiro. Novamente reencontrei os Flechas, na verdade, um grupo deles, chamado Flechas Prateadas de Ametista. Eles fizeram um trabalho brilhante, derrubaram o clã criminoso e salvaram Euphemes e eu do domínio de um Devorador de Mentes que obscuramente comandava a capital do Vale do Borla.

Hoje, minha vida parece ter tomado um novo rumo. Recuperei uma cidade. Sei que não sou mais aventureiro, mas posso comandá-los. Quem sabe não volto a instituir a escola? Minha tinta de escrever está prestes a acabar. A história sobre como destruir a flauta artefato fica para uma futura carta.

Que os deuses guiem seu caminho, irmão Rafiq".

quinta-feira, 26 de março de 2020

25 NPCs - Personagem 8 - Pieter Bosch, parte I - A Herança Mágica

"Caro amigo Rafiq...

Depois de tantas discussões noturnas, seja a beira de uma fogueira ao ar livre, numa taverna cheia ou numa estalagem confortável, finalmente lhe escrevo uma carta que provará que o destino para mim, é uma sequência de ganhos e perdas. Como eu provo isso? Com minha história pessoal. Sei que você, como um clérigo de Deneir, vai apreciá-la.

Sendo o filho mais novo de uma família enorme de fazendeiros numa comunidade pobre, desde o começo meu destino seria sofrer. Antes dos 7 anos, fui vendido para um mago que passava pela região. Meu senhor tinha um título pomposo chamado de Mago Extraplanar. Sim, eu era um escravo, não um aprendiz de mago. 10 anos de trabalhos forçados até ele perceber que minha inteligência era desperdiçada na limpeza de sua torre mágica e começar meu treinamento mágico.

Mesmo assim, sua prepotência continuava. Depois de algumas aventuras o acompanhando, o pagamento que ele recebeu por afastar goblins de uma série de vilas foi gasto em vinhos caros. A bebedeira o fez contar "toda a sua vida de incríveis aventuras" e eu perdi uma noite merecida de sono por ouvir coisas sobre ele que descobri em meus anos de servitude.

O nome real dele? Talvez ele tenha contado, mas não fazia diferença nenhuma para mim. O Mago Extraplanar, especificamente sobre magias planares, só conhecia a palavra de comando que fazia sua torre fazer viagens entre os planos. Meu mestre era apenas um aprendiz de um mago chamado Tarmud, um especialista na criação de maravilhas mágicas. Quando o mago que o treinava morreu, ele usou a palavra de comando roubada, e fugiu com a Torre Fabulosa e suas riquezas, deixando um talentoso aprendiz e provável herdeiro de Tarmud para trás.

Depois dessa bebedeira, ele gentilmente me convidou a deixar a Torre e me aventurar no mundo. No meu primeiro ano de exílio, apenas nos comunicamos através de mensagens mágicas, que ele me enviava. Perguntava dos meus trabalhos, do meu desenvolvimento arcano e se alguém tinha me abordado perguntando por ele.

Um belo dia, depois que fui quase morto ou capturado por um bando de homens lagarto, o mago Extraplanar me apareceu de uma forma fantasmagórica. Na visão, ele parecida bastante ferido, mas não por armas. Alguma evocação o tinha feito sangrar bastante. Nos poucos segundos que teve, me pediu ajuda, pediu que eu voltasse a torre. Quando o susto da sua aparição passou, a imagem desapareceu e senti um portal me puxar.

Após um turbilhão de energia, estava dentro da Torre Fabulosa, sem nenhum sinal do Mago Extraplanar, pois a torre tinha viajado para outro plano, que algum tempo depois descobri que se chamava Toril. Nunca soube realmente o que aconteceu. Acho que provavelmente ele foi morto em Mystara, plano que estávamos, por um inimigo que sempre o atacava. Dessa vez, Telurius tinha ganho uma batalha, Telurius, o talentoso aprendiz de Tarmud.

Ganhei a Torre, as riquezas, os itens mágicos, os grimorios e o inimigo. A Torre se instalou num lugar chamado Vale do Borla e em pouco tempo virei mago consultor da região. No começo, o líder da comunidade, o Barão Euphemes, me procurava por ser um praticante da Arte, mas, com o tempo, ele preferia que eu fosse seu conselheiro.  Foi como conselheiro que tive a oportunidade de conhecer o clã de aventureiros Flechas Prateadas.

Minhas vitórias e, principalmente, minhas derrotas tem haver com eles, com a Torre que herdei e com o inimigo que o destino me trouxe, mas isso são histórias para eu lhe contar em uma próxima carta, Rafiq.

Fique em paz!"

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Resumo de Campanha Pandarium RPG - Capítulo 1 - O Sol Negro

Hoje começamos o resumo da nova campanha Pandarium RPG, narrada por um grande amigo meu, Matheus "Panda" Moura, no cenário de Tormenta, contada pelo meu personagem, o bardo Percival Shutterback.


Enquanto sinto o balanço da carroça, quase embalando meu cochilo da tarde, lembro que dez anos se passaram. Dez anos se passaram da noite do Sol Negro...

***

Seria mais um dia que eu, um jovem bardo humano de 15 anos, chamado Percival Shutterback, desfrutaria de um almoço no conforto do castelo de meu amigo e companheiro de música Merlin. Eu tocando bandolim e ele um exímio flautista. Eu, o primogênito do clã Shutterback, uma família de humanos nômades adotada pelo povo e pelos nobres locais da capital do reino Soloyalí. Ele, o príncipe desse mesmo reino, formado a menos de uma centena de anos na tríplice fronteira de Collen, Tollon e Montanhas Uivantes. Quando cheguei no castelo aquele dia, uma escuridão surgiu no seu céu e cobriu Azgher. As pessoas começaram a se refugiar dentro da fortaleza Soloyalí. Pouco tempo depois, reencontrei minha família.

Levi Postoya, o conselheiro do rei, anunciou a multidão que não haveria motivo para pânico, provavelmente seria uma brincadeira de Tenebra, a deusa da noite. Como ele estava enganado.

Cerca de uma hora depois, um gigantesco dragão sombrio tomou os céus, comandando uma horda de criaturas malditas. Vampiros. Matando inocentes, heróis, todos. Pensávamos que essa desgraça recaia apenas sobre nosso reino, mas minhas viagens como representante do reino em outros países nos anos vindouros me confirmaram que todos os reinos de Arton sofriam com a invasão dos vampiros. O dragão negro Yuriovich foi uma maldição adicional.

Os sobreviventes da região estavam no castelo. Logo, quando se notou que os ataques diários de vampiros não iriam cessar, um grupo de aventureiros foi reunido para derrotar o dragão, após uma semana. Ideia brilhante vinda do meu virtuoso amigo, agora Merlin tinha virado um estudioso. Ele largou a flauta e mergulhou na biblioteca arcana da família. Nos seus estudos, ele nos disse que o ataque dos vampiros, a criatura dracônica e o eclipse definitivo tinham ligação com uma maldição antiga.

Para desfazer a maldição, os melhores aventureiros reunidos tinham que derrotar o dragão. Mesmo com o terror em nossas vidas, surgiu uma fagulha de esperança. Logo estaríamos livres.

Praticamente todos os aventureiros morreram. Merlin, o único sobrevivente, se trancou na biblioteca, buscando entender o que houve de errado em seu plano.

Se passaram um ano de cerco, sofrimento e escuridão no castelo Soloyalí até Merlin sair da biblioteca e decidir ir sozinho enfrentar Yuri, com uma orbe de energia que ele mesmo tinha criado com seus estudos. Ele em quase nada se parecia com meu antigo amigo. Um poder arcano impressionante o ex bardo agora portava, assim como uma insuperável dor, vinda da compaixão por seu povo. Ele destruiu o dragão com sua orbe, mas acho que parte da alma dele foi destruída junto. O Sol Negro desapareceu, o dragão foi mortos, vampiros desapareceram, os sobreviventes viveram e seguiram em frente, menos o flautista.

***
 
Dez anos depois, Eric, o novo lorde do reino, irmão de Merlin, me convoca para um almoço. Lá vejo velhas caras conhecidas (outras nem tanto). Recebo minha nova missão: investigar um indício de que vampiros voltaram a agir, na terras de um dos regentes do reino Sorius. Como companheiros de viagem estão Maui... Maui tem uma história interessante. Ele se diz um semideus que perdeu os poderes e alguns anos depois, ele continua sem poderes e mais amargurado de perdê-los. Temos também um aventureiro exótico de Nitamu-ra chamado Raidon. Mercenário clássico. E para terminar, o último dos aventureiros, Rufus, o estranho elfo - diz ele que é cego, mas não acredito muito, porque - arqueiro cego com pedras preciosas nos olhos e que acerta todos os tiros, como notei mais tarde.
 
Hora do cochilo na carroça. Conto a vocês o que aconteceu depois, na minha próxima missiva.

Eu, Percival, me dispenso de vocês, lembrando sempre que nas lutas da vida, "use a força para chegar a glória!"

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

25 NPCs - Personagem 7 - Rundolph "Meias Longas" Avalon

O sol começa a desaparecer, encoberto pela cordilheira das Montanhas do Trovão. Era um final de tarde espetacular que somente o Outono poderia trazer. Aquele misto de luz laranjada com tons rosas era ainda mais acentuado nas águas cristalinas do Rio do Arco. Isso já causava saudade em Rundolph Avalon, pois sabia que iria deixa-lo amanhã.


O senhor de seus 40 e poucos anos estava sentando na varanda de casa, uma fazenda próxima do rio, aproveitando aquela visão. Um cheiro agradável lhe chegou as narinas, o que o fez se virar para trás, olhando além de sua cadeira de balanço, para ver a aproximação de sua sempre silenciosa esposa Lilhiel. Nas mãos da elfa da lua estava o seu chá favorito.


“Está aqui seu chá de amoras silvestres, meu E’sum Ath Crith


“Obrigado, Thiramen!”


Ele se deliciava do seu chá, enquanto Lilhiel apoiava suas mãos em seus ombros. Ela sempre foi a paixão da sua vida e eles nunca teve dúvidas que era correspondido no amor, mas sabia que sua frágil vida humana, comparada a de uma elfa, em poucos anos, os separaria. Rundolph tinha essa impressão a cada dia, cada vez maior. Tinha que tirar essa preocupação da cabeça e lembrar que o amor que viveram e vivem era o que importava. O outro motivo era que os novos aventureiros da companhia caravaneira que ele comandava, que treinavam na beira do rio, já estavam vindo conversar com ele.


A companhia Flechas Prateadas se orgulhava de empregar os melhores aventureiros da região dos Vales para transportes dos melhores produtos élficos da região. Rundolph usava as viagens que a caravana fazia para enfrentar ameaças malignas, pois sempre escolhia nobres aventureiros em suas fileiras. A nova safra deles se dirigia a sua varanda, acompanhando a líder deles no Vale do Arco, a meia-elfa drow Aeres, nascida na distante terra de Maztica, com seus estranhos, mas benéficos poderes de sacerdotisa do arco íris.
"Mestre Rundolph, trouxe comigo os 5 novos aventureiros que acompanharam a Caravana Flechas Prateadas até a cidade de Voonlar. Prometi a eles que o senhor responderia a uma pergunta de cada um deles se realizassem o treino de hoje sem reclamar. Todos cumpriram."

O mestre caravaneiro deu uma nova golada em sua caneca de chá e comentou: "quem é o primeiro?"

Um jovem lutador humano, um dos primeiros a sentar na grama em frente da varanda, no meio do semicírculo formado por seus companheiros, levantou a mão. "Por que o nome de nosso grupo e da caravana se chama Flechas Prateadas?"

Um sorriso de nostalgia apareceu no semblante de Rundolph.

"Somos Flechas Prateadas por causa da escola de mercenários e aventureiros criada pelo meu irmão mais velho, Aaron. Antes até de meu pai, um grande treinador, ele percebeu que eu era um fracasso com armas de combate corpo-a-corpo. Mas mesmo assim, ele não desistiu de mim. Antes que meu pai me largasse, ele me trouxe um arco curto elfico, uma beleza de arma. Desde então, me parecia natural atirar de arco, natural como respirar. Quando me casei com Lilhiel e decidi me juntar uma caravana, Aaron disse que eu precisaria de várias flechas prateadas ao meu lado, como aquelas que ele tinha me dado junto com o arco, para sobreviver nesse mundo."

"Lorde Rundolph, por que o apelido Meias Longas? Fora as meias longas, claro. Quem deu esse apelido?"

Rundolph esperou as pequenas risadas cessarem, depois da cara de repressão de Aeres, para responder: "Estamos no meio da Floresta do Arco, prestes a tentar impedir uma guerra entre os elfos selvagens da floresta e as forças do Vale do Arco. Imaginem, acampados numa floresta fechada, cuja névoa noturna congelava até os ossos, esperando não ser atacados, mesmo sendo um grupo de paz. O druida do nosso grupo, Nathuran, que estava no turno aquela noite, viu algo se mexendo num arbusto e imprudentemente lançou um enxame de insetos. Naquela noite, aprendi que devo avisar quando vou 'obedecer aos instintos naturais' aos meus companheiros. Eu que estava naqueles arbustos. Minha calça foi quase que praticamente devorada e eu não tinha calça substituta. Fiz toda a missão de paz com uma camisa suja, uma bermuda rasgada e minhas intactas meias longas verde musgo."

"Onde você conheceu a senhora Lilhiel?" Rundolph não vi o rosto da elfa ruborecer e os olhos dela brilharem, mas sentiu suas suaves mãos esquentarem em seus ombros. Ele sabia que ela adorava quando seu consorte humano contava a história.

"Foi em umas das minhas primeiras missões. Tinha uns 12 anos. Papai nos trouxe para combater um grupo de bandidos assolando pequenas vilas no leste do Vale Profundo. Quando descobrimos nosso inimigo, descobrimos também que eles tinham um mago. Lembrem-se de se espalhar quando ouvirem uma evocação de uma bola de fogo, jovem. O nosso grupo familiar se separou, mas eu fui jogado dentro de uma barraca pela força da explosão. Lá dentro, vi um ser que deveria ser celestial, presa. Libertei-a e pegando emprestado o meu arco, essa elfa da lua acabou me salvando. Nunca me esqueci da paixão que ela me despertou. 10 anos depois, a encontrei, e algumas aventuras depois, nos casamos e continuamos juntos até hoje."

"Qual a sua maior aventura?"

O arqueiro caravaneiro tomou o último gole de seu chá e entregou a xícara a sua esposa. "Não tenho nenhuma aventura que tenha sido a maior ou melhor. O que vocês precisam ter a consciência como aventureiros, é que haverão dias muitos bons e haverão dias péssimos. São esses dias que vocês lembrarão. Lembro de quando derrotarmos o Rei Bugbear que ameaçava os Vales; lembro de termos evitado a Guerra do Arco; criamos filiais e salvamos cidades; mas lembro dos momentos ruins também, como perder grande parte dos aventureiros numa masmorra drow; lembro da queda da escola de aventureiros do meu irmão, assim como lembro do sacrifício de minha filha para derrotar um dragão vermelho."

Rundolph segurou as lágrimas. Ainda havia uma pergunta antes de se recolher.

"Mesmo com alguns fatos tristes, o que você acha dos Flechas Prateadas?"

"Eles são meu orgulho. Mesmo enfrentando dificuldades, eles vencem. Mesmo participando só um tempo ou ficando muito tempo conosco, ser um flecha prateada marca uma pessoa, positivamente. São esses momentos juntos que serão lembrados sempre. Bem, jovens, vamos nos recolher agora. Amanhã, a caravana parte. Temos um casamento de dois aventureiros dos Flechas Prateadas de Ametista para ir".

***

Rundolph esperou seus pupilos se recolherem, apreciando a noite que viria, pois tinha a sensação ruim de que talvez demorasse muito tempo para ver o luar refletido no Rio do Arco...